Nouadhibou (Mauritânia)–Dakar (Senegal) – 690 km

Subúrbios de Nouadhibou - desoladores. Mauritânia. Foto Gérard Moss

Subúrbios de Nouadhibou – desoladores. Mauritânia. Foto Gérard Moss

19 de setembro de 2001

Tudo certo na chegada em Nouadhibou. A imigração ficou com meu passaporte: sem problemas, é um sinal que respeitam as regras internacionais da ICAO permitindo pilotos em trânsito de chegar sem visto. Abdul apareceu, se designando como meu guia, motorista de táxi, despachante e agente geral! O aeroporto estava completamente aberto ao público – havia pessoas por todos os lados, até fazendo cooper. Mauritânia é um país muito pobre e o motoplanador estava muito longe do terminal e das luzes. Pela primeira vez nesta viagem, estava preocupado sobre a segurança da aeronave. Mas ninguém mexeu com nada.

Abdul me disse que não seria difícil achar um hotel e sim comida. O conselho dele foi perguntar se havia comida no hotel antes de pegar um quarto. Boa dica. Os primeiros dois hotéis que nós tentamos não tinham. O hotel Nakhil tinha um restaurante (cadeiras de plástico e um salão vazio), então pedi logo um poulet grillé antes de perder a chance. Que franguinho duro de mastigar… mas tive sorte em ter algo para comer. Sendo um país muçulmano, a única pessoa que vende cerveja é um comerciante chinês – US$ 6 a lata! Fiquei só na água.

No dia seguinte, a primeira coisa foi pedir uma autorização para voar até Atar, um lugar lindo no interior. Sr Boubacar chamou a Aviação Civil em Nouakchott em meu nome. Só aceitariam meu vôo se eu tivesse um visto válido. Como não há muitos consulados mauritanos espalhados ao redor do globo, confessei que não tinha. A manhã toda foi gasta com negociações e chamadas telefônicas, até eu desistir. Atar, foi muito recomendado por Eric, um amigo belga, mas terei que voltar outra vez.

Decolei as 1230 para Dakar. O vôo foi muito prazeroso: centenas de quilômetros de uma costa intocada sobre um céu maravilhosamente claro. Aldeias de pescadores, acampamentos dos Touareg com suas cabras e camelos, cavalos selvagens, flamingos cor de rosa, faróis abandonados, navios naufragados, praias de areias brancas, pântanos e dunas de areia. As câmeras estavam esquentando, e eu também. Raramente voei acima de 500 pés, então a temperatura na cabine passava de 40 graus. Um bom vento de cauda de 15-20 nós me permitiu flutuar em todo o percurso quase sem motor, o que ajudou para manter baixa a temperatura do óleo do motor.

Com tanto vento de cauda, estava indo rápido demais! O Ximango realmente tem uma flexibilidade incrível: com o motor só girando lentamente, poderia ficar lá voando por dois dias graças à baixa taxa de consumo. O GPS Garmin me mostrava até a posição dos parques nacionais em todo caminho. O vôo foi simplesmente mágico. É isso: me senti em um tapete voador! Fiquei triste quando Dakar apareceu no horizonte. O vôo deveria ter levado menos de 3 horas, mas com tantas voltas que dei, levou 5½! Me lembrei como, no meu vôo ao redor do mundo com Margi, África nos proporcionou alguns dos vôos mais lindos.

Quando parei no Aeroclube em Dakar, vários pilotos vieram admirar o Ximango e tirar fotos. Fiquei assombrado quando Sr. Abdoul Gueye, um instrutor de vôo, me disse, “Mas a última vez que você esteve aqui foi com um Saratoga, n’est-ce pas?” Que memória! Já se passaram 12 anos! Outro piloto, Denis, me convidou para ficar na casa dele. Obrigado, capitão!

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