Cottonwood-Salt Lake City (EUA) – 865 km

Sobrevoando o Lago Powell, suas águas azuis um belo contraste com o deserto. Foto Gérard Moss

Sobrevoando o Lago Powell, suas águas azuis um belo contraste com o deserto. Foto Gérard Moss

Decolei às 06h30 de Cottonwood. No aeroporto, havia apenas o piloto de um Bonanza que pousou, antes do nascer do sol, com sua família, vindo de Texas. Aproei ao Grand Canyon. As regras de vôo na região mudaram desde minha última visita em 1997 e os aviões leves não podem mais voar nivelado com o cânion. Têm que manter um mínimo de 14.500 pés. Claro, isso faz com que a vida dos turistas no chão se torne mais tranqüila… mas tira todo o gostinho de voar sobre cânion.

O tempo não era ideal, então somente pude planar uma meia hora. Mesmo assim, que diferença ver aquele cenário apenas com o barulhinho do vento. As novas regras restringem muito as possibilidades, mas como já conheço a região, sabia aonde encontrar um lugar sereno para ficar voando sozinho.

O lago Powell, na vizinhança, estava lindo como sempre, suas águas azuis resplandecentes, um contraste com o vazio do deserto amarelado. Aqui, sim, consegui planar numa boa e só parei devido à falta de tempo. Quis também encaixar o Monument Valley no meu programa do dia e depois ainda tinha muitas milhas pela frente. As imagens falam tudo, então vejam as fotos pois gostaria que vocês partilhassem comigo um pouco da minha emoção!

Finalmente, peguei um rumo ao norte, direção Hanksville, à procura de combustível (em Cottonwood estava em falta!). Eu estava sobrevoando uma região muito isolada e não podia deixar de pensar que, se tivesse que descer algum lugar por ali, não ia conseguir sair andando pelo labirinto dos cânions. Os cinco litros de água não iam me levar muito longe.

O aeroporto de Hanksville estava abandonado. Prossegui direção Richfield, passando entre uma cadeia de montanhas espetaculares e os CBs carregados de chuva. A certa altura, o vento gerado por um enorme CB era tão forte que me puxou para baixo a 2.000 pés/minuto quando me aproximava de uma crista que tinha uns 8.000 pés. Eu estava a 9.500 pés, e seria muito arriscado tentar passar. Dei umas voltas, procurando carona de alguma corrente ascendente e logo achei. Foi como subir num rápido elevador a 2.000 pés/minuto. Em poucos momentos, estava a 12.000 pés, e passei facilmente por cima da crista.

O nível do combustível estava bem baixo. Encontrei no banco de dados do Garmin 430 GPS um aeroporto chamado Delta, constando que havia gasolina. Porém, o aeroporto é sem plantão permanente e você tem que ligar para ser atendido. Funcionou bem, é claro, e em poucos instantes um carro chegou. O frentista era bastante cordial então aproveitei para pedir para trocar a biruta rasgada. Senti que o pouso havia sido muito rápido, mesmo levando em conta a altitude de 5.000 pés, a densidade do ar equivalia a uns 8.000 pés devido ao calor. Acontece que tinha pousado na verdade com vento de través e de cauda de 10 nós.

Saindo de Delta, aproei a Salt Lake City, minha primeira visita a esta cidade aos pés das montanhas Wasatch e ao lado do Great Salt Lake. O aeroporto tem três pistas e o controlador me ajudou bastante com a vetoração para a aproximação da pista 34 sem interferir com o tráfego intenso das pistas 35 R e 35 L. Enfim, voltei à Terra, cansado e esfomeado. Foi um dia longo, com 8 horas e meia de vôo. Então vou ficar por aqui por duas noites. O cavalo e seu cavalheiro precisam dá um tempo um do outro!

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