Khabarovsk-Juzno Sakhalinsk – 595 km

Prédio, bem do estilo da época comunista, no centro de Khabarovsk. Foto Gérard Moss

Prédio, bem do estilo da época comunista, no centro de Khabarovsk. Foto Gérard Moss

4 de agosto de 2001

Depois de passar tão bem na maioria dos vôos pela Sibéria, tivemos uma pequena experiência do que a burocracia é capaz. Pretendíamos decolar do aeroporto Khabarovsk Vostock, o regional que fica perto da cidade, para ir abastecer no Clube Acrobático de Rosto, localizado a umas 10 milhas do aeroporto internacional. Yakov tinha solicitado a permissão de Moscou e recebemos a luz verde ontem. Hoje pela manhã, fizemos um pequeno tour de Khabarovsk, graças ao amigo Alex que emprestou o carro e o motorista, Taher. Já eram 10h00 quando finalmente estávamos instalados a bordo, motor ligado, entrando em contato com o Controle de Solo. Os oficiais militares negaram a permissão de táxi, e seguiram duas horas de discussões barulhentas com o pobre Yakov, enquanto eu fiquei de mero espectador.

Enfim, sugeri que fossemos pegar a gasolina em galões. Estávamos com reservas de apenas 45 minutos, e precisávamos de uma boa quantidade de combustível. Meia-hora mais tarde, conhecemos Uri, presidente do aeroclube. No instante, ele nos colocou dentro de um Antonov 2 junto com um grupo de pára-quedistas, e fomos checar a pista de Rosto. Ao chegar lá, fiquei feliz que os militares não tivessem liberado nosso próprio vôo. O aeroporto era um campo quadrado de grama onde os pilotos pousam e decolam como bem entendem. Eu ficaria extremamente perplexo ao chegar no Ximango, sem saber onde pousar. Acho que o trem de pouso, coitado, não ia ficar muito feliz ao tocar no solo ali. Uri, então, se ofereceu para conduzir o caminhão de combustível até o aeroporto onde estava o Ximango. Era mais um gesto de generosidade dos tantos que já presenciei na Rússia. Havia um risco grande para eles: o caminhão, sem documentos, não tem o direito de circular nas ruas da cidade. Uma hora mais tarde (o caminhão é muito velho!), conseguimos carregar 150 litros de Avgas e estou imensamente grato ao Uri pela ajuda. Desde Markovo, estávamos usando apenas gasolina comum.

A essa altura, havia repórteres de dois jornais, uma estação de rádio e uma de TV esperando por nós. A entrevista do dia anterior foi mostrada em toda a Rússia, segundo o que falou ao telefone um amigo do Yakov em Moscou.

As 03h30, hora local, decolamos da pista de 900 metros, um pouco preocupados sobre o peso que tínhamos a bordo. Mais uma vez, sem problemas: levantamos do solo bem antes da cabeceira final da pista. Subimos bem devagar até 3.300 metros de altitude (na Rússia, voamos em metros – são 10.500 pés). Devido à saída tardia, e em nome da Paz (Mir), resolvemos por uma vez aceitar o nível de vôo designado. Normalmente, discutimos com os controladores, procurando voar mais baixo e assim, curtir as paisagens.

O tempo continua perfeito: algumas nuvens cúmulos, bem pequenas, no nosso nível, o estreito de Tartária calmo como um pesque-pague em plena segunda feira, o vôo tranqüilo. Como sempre, Yakov passou 50% do vôo conversando com os controladores. Veja a situação: nos primeiros 30 minutos de vôo após a decolagem de Khabarovsk, ele teve que mudar de freqüência onze vezes. A cada mudança, foi preciso uma longuíssima explicação. Solicitaram mais estimados de vôo (fico rabugento porque tenho que refazer os malditos cálculos a toda hora) e Yakov teve que “negociar” a rota que voaríamos – e, olhe, apenas queríamos voar direto!

Que diabos vou fazer sem Yakov? Foi nosso ultimo vôo juntos. Já estou acostumado ao espaço restrito a bordo, o que achei meio problemático no início. E, enquanto estou escrevendo esse diário de bordo no laptop na asa do avião, para poder transmiti-lo logo por satélite (pousamos há 15 minutos) Yakov está ali, no escritório, negociando onde podemos deixar o avião para a pernoite, preparando o plano de vôo para o Japão na segunda, etc etc etc. Vou sentir muito a falta dele!

Há um vento gelado (vento de 18 nós de través no pouso, mas tudo bem) e bem que a temperatura consta como 18 graus, com certeza entra em jogo a sensação térmica. Precisamos de nossos casacos. No lado técnico, tenho mais um pequeno problema para resolver. A janelinha de plástico que abro para tirar fotos rachou em dois. Tenho que achar uma boa cola. Vai ser difícil num domingo em Juzno-Sakhalinsk.

Mas agora, se vocês me dêem licença, eu e Yakov vamos jantar num restaurante japonês que ele conhece aqui por perto, para festejar mais uma batalha vencida: nossa chegada na ilha de Sakhalin!

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