Ciudad Guayana-Canaima – 230 km

O Ximango pousado em Canaima, com DC3 no pátio. Foto Gérard Moss

O Ximango pousado em Canaima, com DC3 no pátio. Foto Gérard Moss

27 de junho de 2001

Hoje, meu objetivo era sobrevoar o Salto Angel, a maior catarata do mundo (980 m.). Muitas vezes, ela se esconde entre as nuvens, então sabia que era bem possível não avistá-la.

Decolagem às 07h00 horas da Ciudad Guayana, o nome dado as duas ‘poblaciones’ de Puerto Ordaz e San Felix localizados cada uma numa margem do Rio Caroni, rio esse que segue até Canaima. Havia muita nebulosidade, mas pude ver que, lá longe na minha frente, que as chances das nuvens serem derretidas pelo sol tropical eram boas. Sem contato com a Torre de Canaima na 118.50, soube mais tarde por um piloto venezuelano, que a torre somente abre às 09h00 local. Felizmente, já sobrevoei o Salto Angel por duas vezes, então sei qual dos muitos cânions tenho que seguir, mas não é fácil de achar. A paisagem é espetacular, uma das minhas favoritas no mundo, com a magnífica Auyan Tepui despencando do céu para um encontro com a floresta tropical. Já havia conseguido avistar as Cataratas mas quando me aproximei mais, chegaram as nuvens e me roubaram a cena.

Fiquei dando voltas por cima do local durante três horas, torcendo para o tempo melhorar. Passei a metade desse tempo planando, e a metade com o motor virando com potência de marcha lenta. Com a quantidade de combustível que tinha a bordo, poderia ter ficado ali até o por do sol, sem problemas! Eis a vantagem do Ximango! Por fim, como havia problemas na transmissão de imagens ao vivo para a Rede Globo no Rio de Janeiro, pousei no aeroporto de Canaima para estabelecer o contato em terra. Passei mais três horas tentando achar uma solução.

Logo quando pensamos que estava tudo ok, decolei novamente às 16h00 para tentar filmar o Salto Angel. Porém, logo após a decolagem, vi que o vale que vai até as Cataratas estava fechado por chuva e sabia que ia ser impossível chegar lá. Então, aproveitei e fui planar – passei mais de uma hora planando entre os tepuis – que maravilha, gente! Estou completamente interagido com o Ximango, suas longas asas parecem uma extensão dos meus braços. O avião faz um sucesso no chão também. Quase todos os pilotos e muitos turistas vêem dar uma olhada e fazer perguntas.

A pesar de estar embutido no cockpit entre todo o equipamento que tem a bordo, estou surpreso como estou bem confortável. Hoje, levei 90 minutos para alcançar as Cataratas, passei três horas circulando, três horas sentado no cockpit em terra testando a transmissão de imagens,e mais uma hora planando no final do dia. Sem dor nas costas! A chuva chegou a Canaima logo depois das 17h00 horas. Quase não tive tempo de amarrar o avião e correr até o hotel… onde tenho um quarto com vista das Cataratas de Canaima. Oba.

Canaima é um lugar maravilhoso. Apenas uma pista de terra aonde os DC3 pousam, trazendo turistas da Isla Margarita, e um punhado de pousadas na beira d’água. À distância, os tepuis se elevem, grandiosos, no horizonte e aqui tenho uma sensação de paz, longe do mundo louco das cidades grandes. Agora, vamos ver se tenho sorte amanhã de manhã, e se posso flagrar o Salto Angel antes de continuar meu vôo, rumo a Valencia (700 km).

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