William Lake-Smithers–Whitehorse – 1.500 km em ziguezague

Um belíssimo voo, no entanto um desafio: montanhas, lugar remoto, nuvens baixas...

Um belíssimo voo, no entanto um desafio: montanhas, lugar remoto, nuvens baixas…

19 de julho de 2001

Resumo do vôo Decolagem com chuva, 1 km de visibilidade e teto de 500 pés às 10h40, com 6 horas de combustível a bordo. Vôo difícil com mau tempo. Pousei em Smithers para reabastecer e descansar, 30 minutos no solo. Finalmente pousei em Whitehorse, no Yukon. Latitude 60N, às 21h00. Tempo total em vôo: 9horas e 50 minutos com 1 hora planando em três locais diferentes, tudo sem piloto automático (pifado). Temperatura na decolagem 13 graus, e no pouso às 21h00, 27 graus!

O tempo estava tão ruim que meu amigo controlador e fã de bossa nova, Evans, me convidou para tomar o café da manhã com sua esposa, Angie. Quando chegamos no aeroporto, parecia que eu nunca iria sair de lá. A notícia boa era que as condições estavam um pouco melhor para o Oeste. Evans – um homem versátil que é controlador, piloto, astrofísico e guitarrista – me mostrou um caminho alternativo ao infame “Trench” até Watson Lake. A sugestão era seguir a Stewart Highway. De acordo com os boletins meteorológicos, ia ser impossível alcançar Prince George, então abracei a idéia.

Logo depois de decolar, fiquei duvidando se deveria seguir ou não. Dei algumas voltas acima do aeroporto, olhando por todas as direções. Parecia que a única opção naquele momento seria tentar em direção ao sul. Tudo bem, pensei, melhor que nada. Pouco depois, uma brecha apareceu em direção Oeste. Havia muita chuva e muitas camadas de nuvens, bem baixas e próximas ao solo. As vezes, estava voando a 50 metros das copas das árvores, mas sempre com visibilidade à frente. Quando eu não via mais de 1 Km na minha frente, voltava e tentava voar por outro caminho. Percebi como os mapas tradicionais são tão importantes comparados ao GPS. Eu plotava a minha posição o tempo todo no mapa de papel, verificando que não tinha nenhuma montanha à frente e procurando os leitos dos rios onde teria um terreno mais baixo. O vôo para Smithers estava previsto para 2 horas em linha reta, mas pelo caminho que voei, demorei o dobro. Pousei exausto, mas feliz por ter passado ao lado certo do mau tempo. Havia só nuvens altas e céu azul!

Depois de abastecer, estava seguindo a Stewart Highway e reparei que as montanhas à esquerda estavam completamente abertas. Que espetáculo! Centenas de picos nevadas. A tentação era grande. Tempo de planar! Mas eu perdi altura rapidamente e conclui que os glaciares não são os melhores lugares para ter correntes ascendentes. De repente vi um glaciar incrível, mas não pude encontrar o nome dele no meu mapa: N56 00, W129.30. A vontade era passar todo o dia gozando deste horizonte infinito de montanhas nevadas, mas ainda faltavam 400 milhas para Whitehorse, então me mandei. Mas eram só mais e mais montanhas. Eu não podia parar de tirar fotos e filmar, cada uma parecia mais linda que a última. Depois de tanta brancura, fiquei com vontade de ver verde, então desliguei o motor e fui descendo devagarosamente para dentro de um vale. Lá avistei um solitário alce com chifres enormes. Com o silêncio do planador, ele nem olhou para cima até o momento em que liguei o motor novamente. Mesmo assim, ele estava filosoficamente calmo e eu fiquei pelo menos dez minutos enquanto ele mastigava a vegetação dentro do lago. Eu tentei tirar umas fotos, mas mesmo à velocidade de planeio, saíram fora de foco.

Todo este tempo consegui manter contato pelo rádio VHF. Felizmente, porque duas vezes precisei modificar meu ETA (tempo estimado de chegada), aumentando por uma hora a cada vez. Eu estava me divertindo demais para querer chegar à cidade com tanta pressa. Quando finalmente pousei em Whitehorse às 21h00, não havia nenhuma nuvem no céu. Ao descer do cockpit, no maior sol, conheci três pilotos que, como muitos outros nestes dias, estavam a caminho da feira de Oshkosh. Mas estes me pareciam vagamente familiares. Um deles me perguntou: “Não era você que estava viajando com sua mulher por aqui uns anos atrás? A gente se cruzou na sala da Meteorologia em Fairbanks…” Que memória, hein?

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