Fairbanks–Galena–Nome – 840 km

O magnífico rio Yukon atravessando a tundra. Foto Gérard Moss

O magnífico rio Yukon atravessando a tundra. Foto Gérard Moss

24 de julho de 2001

Resumo de vôo Fairbanks – Galena 2h20 de vôo, 430 km. Galena – Nome 3h50 de vôo, 440 km passando por Unalakleet. Altitude media em vôo 300-500 pés AGL. Sem planear, obviamente!

Ontem, devido ao mau tempo, não pudemos voar. Hoje, eu e Yakov decidimos sair de Fairbanks e voar até onde fosse possível, provavelmente a Galena, e dali verificar as condições de tempo adiante. Isto significava um vôo de duas horas a oeste de Fairbanks, inicialmente seguindo o rio Tanana e depois o imenso rio Yukon. O primeiro desafio foi organizar a bagagem deixando o espaço livre no banco do co-piloto para Yakov. Eram 10h30 quando decolamos, apesar de termos saído do hotel às 07h30. A turma da sala AIS nos desejou boa sorte.

Enchemos os tanques principais, e colocamos mais 40 litros nos tanques adicionais, totalizando 170 litros, o que significa 9 horas de autonomia. Contabilizando Yakov e suas duas pequenas bagagens, o avião esta com 100 kg a mais. Eu estava bastante apreensivo sobre a decolagem. Para ter uma larga margem para a rolagem, solicitei a maior pista do aeroporto. Mais uma vez, o Ximango me surpreendeu, respondendo positivamente e subindo com eficiência, aparentemente sem sentir a carga nova.

Apesar do teto ser de apenas 1.500 pés, não foi nada estressante seguir o leito do rio Yukon até Galena onde eu tinha hora marcada. Um batepapo na UOL! Tive que procurar como me conectar à Internet e a companhia de táxi aéreo local me quebrou esse galho. Com certeza ninguém que estava participando desse chat conseguiria imaginar de onde eu estava “falando”. Sentado em um pequeno vilarejo de 600 esquimós, isolado do mundo exceto pelo grande rio, o aeroporto e a linha de telefone!

Enquanto esperava entrar no ar, fiquei batendo papo com Hutchison, de 86 anos, pai de 14 filhos, que escreveu um livro sobre sua vida no Alasca e me presenteou com uma cópia. Obrigado, Hutchinson. Yakov, como sempre, conseguiu achar uma russa mesmo nessa pequena aldeia perdida!

George, gerente e piloto do táxi aéreo, havia tentado alcançar Nome duas vezes por dia desde que o mau tempo chegou à região, sem sucesso. Quais são as nossas chances, pensei entre meus botões. O povo do Alasca tem uma atitude muito positiva sobre a vida. Para que consigamos passar as montanhas Nulato que nos separavam do mar, ele sugeriu que seguíssemos um vale rumo ao sul até Unalakleet. Resolvemos fazer uma tentativa. Agradeço aos céus por ser o Yakov que está comigo, ele sempre topa qualquer coisa. Galena continuava com boa visibilidade, por tanto sempre poderíamos voltar se necessário. O tempo ao leste das montanhas estava melhorando, então ficamos animados na possibilidade de achar um caminho aberto pela beira-mar.

Hey, George, valeu a dica! Voamos baixo sobre a tundra à procura de animais selvagens – vimos muitos aves, castores e alces, mas nenhum urso – e por fim, chegamos à aldeia de Unalakleet, no mar de Bering. Um piloto que estava decolando da pista naquele momento nos incentivou pelo rádio a continuar, dizendo que o teto (completamente fechado a 400-500 pés naquele lugar) não poderia piorar. Estava torcendo que ele tivesse razão. Há várias pistas rudimentares nas aldeias pelo caminho que poderíamos usar em caso de aperto e o teto baixo foi compensado pela boa visibilidade.

É sorte que agora tenho Yakov ao meu lado para ajudar, porque o piloto automático pifou novamente. Isso não me surpreendeu. Apenas me deixou chateado por ter desperdiçado uma nota e um dia inteiro, o que permitiu o mau tempo chegar e cobrir o Alasca.

Avançamos na direção de Nome (só 125 milhas/230 km de Unalakleet), seguindo a desolada costa do mar de Bering. Três vezes, ligamos para Nome no telefone satelital para saber das condições para o pouso. Ao começo, reportaram um animador teto de 900 pés e 10 km de visibilidade, mas com cada chamada, o teto foi caindo. Finalmente, soubemos que tinha 300 pés de teto (sim, apenas 100 metros!) e 1,5 km de visibilidade com neblina. Nestas condições, era um milagre se conseguíssemos pousar e eu felizmente contava com o fato de já ter pousado antes em Nome e conheço as limitações do lugar. Porém, por nenhum momento pude esquecer que a última vez que decolei de Nome, em 1997, o temido “fog” marinho fechou o aeroporto e um jovem piloto que estava chegando para o pouso num Cessninha, bateu numa antena na aproximação e se matou.

Não é preciso dizer, eu e Yakov festejamos com um bom jantar no Milano Pizza, restaurante japonês! Enquanto escrevo essas linhas no meu quartinho de hotel, às 23h50, o outro lado da rua sumiu no fog apesar de ter luz do dia ainda. Mal consigo acreditar que chegamos a Nome. O teto nunca subiu mais de 500 pés no último trecho do vôo, com visibilidade restrita a apenas 2-3 km.

Próximo vôo – Rússia! Mas, com as atuais condições de tempo, continua um sonho impossível.

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