Amboise-Dieppe (França) – 220 km

René Fournier, inventor do motoplanador e projetista do Ximango. Amboise, França

9 de setembro de 2001

Com tantos lugares para visitar na França, porque fui para Amboise? Por causa de dois grandes homens. Um morou e morreu lá em 1519 e o outro continua bem vivo, desfrutando de uma das mais belas partes da França. Ambos são inventores e pioneiros, em tempos diferentes. Ambos sofreram de maneira parecida, um sob a tirania da realeza, o outro sob a tirania dos burocratas e dos políticos. Leonardo de Vinci e René Fournier estão separados por quatro séculos, mas unidos pela visão futurista, cada um em seu campo. O primeiro goza de reconhecimento mundial, o último é somente conhecido no mundo da aviação: ambos têm sua página na história.

Foi René Fournier quem criou e desenvolveu o conceito de planador motorizado numa época em que havia uma correria para construir aeronaves cada vez mais poderosas. Os aviões dele são as mais eficientes e bonitas máquinas voadoras do mundo. Os primeiros modelos tinham apenas duas dúzias de cavalos, mas eram capazes de decolar com sua própria potência e de realizar vôos longos, usando o motor ou sem motor. Os quarenta anos que Fournier passou desenvolvendo aviões e construindo motoplanadores resultaram em centenas de aviões espalhados pelo mundo todo. O Ximango, fabricado no Brasil pelo Grupo Aeromot em Porto Alegre, é a última geração e o mais sofisticado: na verdade, é o único motoplanador capaz de dar uma volta ao mundo.

Eu queria muito conhecer esse homem (que não aparenta seus 80 anos) e apresentar para ele o Ximango circunavegador que ele gerou. Jean-Luc Jentel, o representante do Ximango na França, organizou o encontro. Como disse ontem, voamos em formação para Amboise, Jean-Luc em seu SkyArrow na minha frente, e nem sempre em condições ideais de voar. Ao fim, tive o imenso privilégio de conhecer o inventor do motoplanador e pai do nosso Ximango, que deu a milhares de pilotos muitas horas de divertimento nos céus do mundo.

No dia seguinte, o tempo melhorou, permitindo um sobrevôo dos castelos e dos vinhedos no vale do Loire. Chegou a hora de aproar o norte, Jean-Luc voltando para casa ao norte de Paris e eu seguindo rumo a Dieppe, na costa do Canal da Mancha, pronto para a travessia até o Reino Unido… mas não antes de desfrutar um último jantar da cozinha francesa, comendo o melhor linguado da minha vida. Sinto muito se pareço estar obcecado por comida recentemente…!