Torreón (México)–Tucson, Arizona (USA) – 1.085 km

A cidade mexicana de Torreón. Foto Gérard Moss

A cidade mexicana de Torreón. Foto Gérard Moss

8 de julho de 2001

Tempo total de vôo: 7 horas. Planeio maravilhoso sobre o deserto. Altitude média 12.500 pés sobre terreno de 9.000 pés em média.

Apesar de não ter planejado pousar em Torreón, resultou ser um aeroporto perfeito. O pessoal era atencioso, estavam a postos pontualmente às 06h00. Consegui fazer tudo em 10 minutos: imigração, alfândega, plano de vôo, pagar taxas aeroportuárias – isso é um recorde mundial. A taxa de pouso custou a fortuna de US$7,00 e me deram o troco exato em dólar. Isso pode parecer perfeitamente normal para vocês, mas é uma exceção. Em muitos aeroportos pelo mundo, onde temos que pagar as taxas em dólar, a resposta habitual é “desculpe, não temos troco”, o que é sinônimo de gorjeta gorda. Torreón é meu candidato preferido para a medalha de ouro na categoria de melhor aeroporto nessa viagem. Duvido que outro lugar consiga vencê-lo!

O sol nasceu às 07h10 e eu estava no ar às 07h30, subindo devagarinho sobre o deserto para um vôo longo que me levaria sobre uma terra desolada e desabitada. Aproei à Barranca del Cobre, uma série de cânions deslumbrantes na Sierra Madre Ocidental no norte do México. Tinha cinco litros de água a bordo, três a mais do que costumo levar normalmente. Pode fazer a diferença entre a vida e a morte, caso eu tenha a fazer um pouso forçado. Quando me aproximei do Barranco do Cobre, as nuvens estavam fechando os vales. Tentei encontrar um caminho, mas tive que desistir – os cânions estavam repletas de nuvens baixas – então continuei, rumo à Arizona.

Ótimos ventos de cauda! O GPS flutuava entre velocidades de 125-130 nós. Resolvi festejar desligando o motor e me aproximei a uma nuvem perfeita, à esquerda do meu rumo ideal. Paraíso. O silêncio repentino a 11.000 pés acima do deserto. Tempo para reparar nos mínimos detalhes em terra. O lugar parecia totalmente desabitado, sem nenhum traço da presença humana até que, de repente, vi uma barraca com teto de zinco. O que fazia essa família, nesse lugar tão inóspito? Como se deslocava sem deixar nenhuma marca no chão, nem de trilha? Tirei algumas fotos e fiquei planando cada vez mais baixo. Detalhe: tenho que lembrar de olhar para cima de vez em quando, especialmente quando estou em planeio!

Mais tarde sobrevoei uma região pipocada de minas e uns ex-lagos. Que crime deixar esses depósitos naturais de água diminuírem para quase nada. O homem realmente não tem escrúpulos. Usa e abusa até a última gota e aí, simplesmente vai embora para repetir tudo em outro canto, deixando para trás a terra violada.

Voei isolado do mundo durante quase seis horas.Por fim, faltando pouco para a fronteira dos EUA, tive que receber o OK do Prescott Center na freqüência 124.40 e das autoridades americanas para entrar em seu espaço aéreo e continuar até Tucson. Tinha uma mega-tempestade ao leste, mas tudo certo para a pista 11R. Depois de fazer a alfândega (peguei uma fila enorme porque cheguei logo após um jato comercial), re-posicionar o avião e arrumar as coisas, eu estava exausto e com muita fome – já haviam se passado muitas horas desde que tomei uma sopinha em vôo!

O primeiro “restaurante” que vi era um Denny’s. A fome não permite ter frescura! Mais tarde consegui achar meu amigo russo Captain Yakov, que voara até Tucson para me recepcionar e já estava bem conhecido em toda a cidade!

Esse vôo de sete horas foi um dos pontos altos da viagem. Será que já falei isso em outro diário? Caso positivo, então vocês estão vendo como têm coisas deslumbrantes a serem vividas por aí nesse mundo. Seria maravilhoso poder dizer isso após cada vôo que faço ao redor da Terra, mas o que será que me espera na Sibéria gelada e como é que as monções vão me tratar na Índia?

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