Ahmedabad (Índia)-Mascate (Omã) – 2.170 km

Um dos muitos templos antigos na cidade de Ahmedabad, Índia

Um dos muitos templos antigos na cidade de Ahmedabad, Índia

22 de agosto de 2001

O maior desafio de dar a volta ao mundo em um avião não está no ar. Em quatro paradas na Índia, perdi aproximadamente 19 horas em aeroportos preenchendo formulários, respondendo a perguntas oficiais e ouvindo “Sente e espere”.

A viagem para Mascate não só foi um longo vôo, mas também uma longa briga com os controladores. Meu plano de vôo mostrava claramente uma rota pela aerovia G472, mais ou menos diretamente para Mascate, mas o controle de Karachi decidiu que deveria seguir para um ponto chamado KE e depois diretamente para Karachi para depois retomar meu rumo inicial. Não adiantavam nada os argumentos que eu apresentava sobre meu plano de vôo visual, já devidamente aceito e assinado, ou que eu não tinha gasolina suficiente para fazer desvios completamente desnecessários. Mas, como eu não quis encarar nenhum outro encontro com caças nesta viagem, fui obrigado a aceitar as instruções, desviando 30 graus para aproar a cidade de Karachi.

Depois, sem me perguntarem, eles de repente me aprovaram um pouso em Karachi para reabastecer! E mais tarde ainda, quando eu já estava bem longe de Karachi, outro controlador me perguntou em tom desesperado, se meu alcance era suficiente para chegar a Mascate. Meu plano de vôo estava estimado em 8 horas, com 9 horas de reserva de combustível. Portanto eles tinham toda razão de estarem nervosos. Eu também estaria nervoso se não tivesse uma reserva estratégica de combustível a bordo!

Foi a primeira vez há muito que estava voando com tempo bom. Um céu sem nuvens por todo o caminho. Porém, Paquistão estava completamente escondido por uma bruma seca com partículas de areia fina. As dificuldades desse vôo eram precisamente essa bruma seca. Como vocês podem ver na foto, não há um horizonte visível e não tem como navegar visualmente. A falta de um piloto automático realmente me incomoda. Fiquei 8 horas com meus olhos grudados no horizonte artificial, no rumo e no GPS. Cada vez que olhava o mapa, ou marcava a freqüência, ou comia uma barra da Nutry, o avião saia 40 graus da rota em questão de segundos. Em muitos destes casos, os controladores me perguntavam se eu tinha mudado meu destino!

Quando saí do espaço aéreo paquistanês e mudei para o controlador de Mascate, me perguntaram qual era o tipo da aeronave. Ele percebeu que eu não estava mantendo o um rumo constante. Até então, eu tinha estado 8 horas no manche e confesso que quando meus olhos fechavam por alguns segundos, acordei assustado desviando 50 graus do rumo certo.

Alguns de vocês devem estar perguntando porque eu não tenho planado ultimamente. Bom, o tempo no sudeste asiático não permite isto. E mais importante, um planador puro nunca poderia dar uma volta ao mundo: em muitos vôos internacionais, você é obrigado a seguir as aerovias, até mesmo quando o vôo é visual, e tem que manter o vôo em linha reta. Meus desvios momentâneos imediatamente chamaram a atenção dos controladores.

Por fim, a costa de Omã e Mascate apareceram. Mesmo estando exausto, eu não pude resistir de sobrevoar a cidade. Encantadora desde minha última visita em 1990: o palácio do Sultão com o gramado verde brilhante e as fortalezas portuguesas nos penhascos vigiando a baía.

No aeroporto de Seeb, os trâmites foram tranqüilos. Ao reabastecer, percebi que estou perdendo óleo de algum lugar perto da hélice. Dei uma boa olhada, mas aparentemente não é nada grave. Devo prestar muita atenção a isso daqui para frente.

Amanhã terei pela frente um verdadeiro teste de resistência: 1170 milhas náuticas (2170 km) para Djibuti, na boca do Mar Vermelho. É um teste para mim, para o Ximango e para os tanques adicionais – um ensaio perfeito para a travessia do Atlântico, um vôo que vai ser apenas 80 milhas (150 km) mais longo que esse em cima do deserto. Vai ser interessante ver quantos litros de gasolina sobram ao chegar em Djibuti!

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