Polina Osipenko (Sibéria)

No bucólico vilarejo de Vladimirowka

No bucólico vilarejo de Vladimirowka

1 de agosto de 2001

Ontem à noite, fomos convidados a ir na casa de Andrei e Tatiana Koritko, com outros amigos que trabalham no aeroporto. A sauna tradicional foi preparada. Eu, o estrangeiro, seguindo a tradição, tive que ir primeiro. Todos os outros vieram juntos, enquanto as mulheres preparavam as refeições. Era meia noite quando sentamos ao redor da mesa da cozinha para provar algumas vodkas. Haviam várias comidas diferentes espalhadas, mas meus olhos ficaram hipnotizados por um pedaço de salmão. Ninguém estava interessado por ser a comida mais comum ao redor dali!

As batatas, famosas por toda Rússia, foram as melhores que já provei. Que pessoas tão amáveis e hospitaleiras. Nós voltamos para o hotel às 2 da manhã na escuridão – agora que estamos nos aproximando do sul, já não tem mais luz neste horário.

Na manhã seguinte, nós fomos convidados para uma audiência com o prefeito, Uri Alexeivich. Todos eles acharam inacreditável alguém do Rio de Janeiro vir até Polina Osipenko, e arranjaram para nós um passeio no rio com a comissão de fiscalização da pescaria no vilarejo de Vladimirowka, uma comunidade esquimó.

Enquanto Yakov foi mandar uma leva de mensagens e planos de vôo, tarefa obrigatória 24 horas antes da cada vôo, Alexei, o gerente do aeroporto, me deu uma carona ao aeroporto para trocar o óleo do motor. Eu decidi inspecionar as velas, porque me avisaram que, devido ao alto teor de chumbo no combustível por aqui, elas se sujam com facilidade. Mas, depois de tirar a fileira de baixo, eu as coloquei de volta sem limpá-las. Este motor Rotax foi feito para usar vários tipos de gasolina, e nunca deu nenhum sinal de não estar gostando do coquetel de combustíveis que estou dando para ele. A única diferença é que agora está esquentando um pouco mais que o normal, mas considerando onde estou, isto não é um problema sério! Yuri Alexeivich insistiu em tirar a gasolina do tanque do carro dele para nos ajudar a alcançarmos Khabarovsk. A generosidade que estou encontrando aqui não tem limites, e isso tudo é muito valioso, sabendo como é difícil para eles arrumarem gasolina nestes cantos distantes da Sibéria. Ele queria me dar toda a gasolina do tanque, e só parou nos 30 litros devido a minha insistência. Eu me senti muito sem graça, mas para ele, isto era natural e ele não aceitava de outra maneira.

Na tarde, nós nos juntamos com a comissão de pescaria no rio Amgun para uma viagem de 45 minutos para Vladimirowka. O barqueiro era Sergei, um homem forte que anda o tempo inteiro sem camiseta sem se importar com os mosquitos que continuam em nuvens grossas, mais do que eu já vi em qualquer parte do mundo. Sorte que não há malária nessa região. Quando chegamos no vilarejo, os esquimós apareceram e nós caminhamos pelo lugar cercados de crianças. Na Casa de Cultura dos Povos Indígenas, as senhoras nos esperavam para nos mostrar o artesanato típico local.

O retorno da viagem foi marcado por muitas paradas para brindar o rio. O sol nos presenteou com um lindo fim do dia. O brinde significava encher meio copo de vodka, beber 90% dela num gole só e oferecer o resto para o rio. Depois, enchíamos o copo com a água do rio, bebíamos quase tudo e o resto jogávamos de volta. Depois de algumas rodadas, eu admito que estava bastante generoso com o rio. Yakov estava completamente à vontade, o homem mais feliz da terra, contando histórias para o rio.

Eles todos me diziam o quanto o rio deles é limpo, enquanto que o grande rio Amur é muito poluído pelas cidades grandes. Enquanto eles me diziam isso, iam jogando pontas de cigarros e papéis de plástico no rio. Depois de um tempo, eu não resisti e fiz um comentário: – Eu sei que não é da minha conta, o rio é de vocês, mas se vocês estão tão orgulhosos da pureza dele, porque vocês jogam lixo nele? Houve um momento de silêncio, como se eles nunca tivessem pensado nisto antes. Eles concordaram, e disseram que eu estava completamente certo. Um general que tinha acabado de jogar um papelzinho na água, insistiu em fazer umas manobras arriscadas para tentar recuperá-lo com o remo. Ele me disse que em toda sua vida, ele nunca esqueceria aquele momento, e que qualquer menção do Brasil o faria lembrar deste episódio.

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