Okhotsk–Polina Osipenko por Ayan – 880 km

Crianças brincando perto do Ximango em Okhotsk.

Crianças brincando perto do Ximango em Okhotsk.

31 de julho de 2001

Resumo do vôo – Decolagem difícil sobre a pista metálica desnivelada, destino Ayan, a 230 milhas. Aeroporto fechou de repente devido ao fog. Momentos tenebrosos quando tentamos uma descida por um buraco no fog, mas não conseguimos achar a pista. Continuamos a Polina Osipenko, a 246 milhas, sempre tensos e nervosos sem saber se tínhamos combustível suficiente a bordo. Pousamos bem após 6 horas de vôo, precisando tomar um trago de vodka!

Decolamos de Okhotsk às 13h00, de alto astral, com a intenção de pousar em Ayan, pequeno vilarejo de pescadores onde pretendíamos passar dois dias. Comprei 60 litros de gasolina de automóvel na esperança de colocar gasolina de aviação em Ayan, onde operam alguns Antonovs AN-2. Mas para começar, a decolagem era minha preocupação principal. Eu tinha contemplado a opção de usar a pista de táxi, feita de asfalto, mas havia buracos demais. Não consegui alcançar a pista de terra batida, paralela à metálica. Tivemos que agüentar o terrível barulho parecido a rajadas de metralhadora enquanto rolamos pela pista, feita de placas metálicas desiguais. Pelo menos, enquanto aumentamos a velocidade, pareciam mais suaves, mas passei o tempo todo arrepiado, pensando no trem de pouso. Bom, seguramos a barra, mais um tributo à resistência do Ximango.

O aeroporto de Okhotsk fica um pouco para o interior, longe do mar. Agora entendo porque: logo após a decolagem, a gente estava acima de uma grossa camada de fog. A previsão de tempo para Ayan era overcast a 800 pés. Levando em conta que fica na beira mar, significava que poderíamos descer em cima do mar e chegar por baixo. Estamos sob a vigilância constante dos controladores, que pedem posições estimadas a toda hora. Os instrumentos a bordo estão em milhas náuticas e pés. É uma trabalheira danada ter que converter tudo para quilômetros e metros. Infelizmente, quando chegamos perto de Ayan, o controlador informou que estava fechado com fog, mas que ele conseguia ver um pouco de sol logo acima da pista. Sugeriu que sobrevoássemos a área à procura do buraco para descer em cima dela.

Foi então que começaram os problemas. O banco de dados do GPS não contém as coordenadas desta pequena aldeia. As que inseri poderiam não ser muito exatas. Pior, porém, era o fato de que havia muitos morros por volta do aeroporto. Demos várias voltas procurando um buraco na camada, só avistando um mais para o interior num vale. Ao aproximarmos do lugar, vi o que poderia ser um aeroporto e fomos descendo. Só então me dei conta de que não era o aeroporto, e sim um local em começo de construção. A vontade de pousar foi tanta que nos tínhamos instigados um ao outro, e naquela hora, eu tinha certeza que eu estava vendo a cabeceira da pista de pouso.

A essa altura, a única saída era subir pela camada de nuvens. Sabíamos que tinha uns 800 pés de espessura, foram momentos muito longos e tensos na cabine, ambos embutidos neste pequeno espaço, lado a lado, nos sentindo extremamente vulneráveis e nervosos e, óbvio, com opiniões divergentes sobre como proceder. Sabíamos que havia muitos morros por perto e sabíamos que o que fizemos não tinha sido nada inteligente. Foi um alívio e tanto quando saímos em cima da camada das nuvens.

A única alternativa era continuar até Polina Osipenko. Eu não estava muito afim desta idéia, porque não sabíamos com exatidão quantos litros de combustível tínhamos a bordo. Visto que reabastecemos de galões, há sempre um elemento desconhecido. Os tanques traseiros não têm indicador, então é impossível saber a quantidade que temos a bordo. Segundo meus cálculos, deveríamos ter o suficiente para alcançar o destino e mais uma hora de reserva. Mas confesso que não estava nada feliz com a situação. Começar uma perna de vôo de mais de três horas com tanta incerteza, sem saber quanta gasolina de carro estava nos galões de combustível que comprei.

O lado positivo era que a previsão de tempo em Polina Osipenko era excelente. Conseguimos chegar a Polina em 3 horas de vôo (total de 6 horas desde Okhotsk) e ao pousar, tínhamos ainda uma hora de combustível a bordo. Os russos são honestos, sim.

Sinto muito não ter tido a oportunidade de visitar a pitoresca vila de Ayan, mas mal posso descrever nossa felicidade de estarmos novamente em terra. O tempo está magnífico, uns 18-20 graus C. Amanhã, após a troca do óleo, a gente vai fazer um passeio de barco no rio Amgun até um vilarejo esquimó. Acho que merecemos.

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