Denham(Inglaterra)–Cuatro Vientos (Espanha) – 1.270 km

Ao sobrevoar o centro de Londres, no dia 10 de setembro de 2001, nunca pude imaginar o que ia acontecer no dia seguinte. Foto Gérard Moss

Ao sobrevoar o centro de Londres, no dia 10 de setembro de 2001, nunca pude imaginar o que ia acontecer no dia seguinte. Foto Gérard Moss

13 de setembro de 2001 Denham (GB) – Cuatro Vientos (Espanha) 1270 km

Mesmo fazendo um plano de vôo ontem à noite, quando se esperava que o embargo contra vôos civis na Grã Bretanha seria levantado, ainda estava incerto que me permitiriam sair até que Mike chegou na Torre às 07h45 e encontrou o fax do novo Notam liberando o vôo.

A previsão era de um tempo ruim, mas estava um lindo dia ensolarado. Meu destino era Ocaña, na Espanha, mas depois de decolar a Torre de Denham me avisou que os espanhóis tinham recusado meu plano de vôo, dizendo que eu não estava autorizado a pousar em Ocaña. Bem, pensei, só vou me preocupar sobre isto quando chegar perto da Espanha e continuei meu vôo a 1000 pés para evitar as zonas controladas até Southampton. Antes de cruzar o Canal da Mancha, reportei minha posição para os controladores de Southampton e recebi uma mensagem de Denham dizendo que estaria autorizado a pousar em Cuatro Vientos. Submeti novo plano de vôo com London Information enquanto atravessava o Canal, sobre um mar extremamente revolto. Via barcos batendo forte nas ondas. Chuva e nuvens baixas seram sobras da frente fria que tinha passado por Londres durante a noite.

Enfim, sobrevoando a ilha Jersey (aquele paraíso fiscal!), o céu ficou um pouco mais claro, mas por pouco tempo. Cruzei a costa francesa ao oeste de St Malo, sempre mantendo entre 1.000 e 2.000 pés. Tudo chacoalhava com os fortes ventos de través. O teto baixou mais ainda próximo a Lês Sables d’Olonnes, com fina chuva por cima, prejudicando a visibilidade. Por sorte, tinha a costa como referência visual. Ao alcançar Bordeaux, finalmente o tempo melhorou e mais adiante, a cidade de Biarritz passou por baixo das minhas asas, incrivelmente estonteante.

Já chegando na Espanha, as montanhas estavam claramente visíveis e subi facilmente para 8500 pés usando as térmicas, quase sem motor. A terra abaixo de mim estava completamente seca. A controladora na cidade de Victoria era muito atenciosa, mas as comunicações foram difíceis devido à estática. Chegando perto de Madri, pedi a Madrid Approach uma vetorização para o aeroporto de Cuatro Vientos, explicando que eu não estava familiarizado com o lugar. Parecia bastante complicado no mapa do GPS. Para minha surpresa, o controlador se recusou. Então não tive nenhuma opção além de descer para 1000 pés e procurar um caminho longe das áreas de restrições. Estava aflito em estar em espaço militar. Cristina, a atenciosa controladora de Cuatro Vientos, me disse mais tarde que eu havia invadido um espaço aéreo proibido, mas ela sorriu e disse que muitos pilotos fazem isto quando chegam a este aeroporto pela primeira vez.

Lá me esperando estavam Michel Gordillo, piloto da Ibéria, e Juan Carlos Muela da Victorinox. Eu tinha cruzado com Michel em Seattle 58 dias atrás, quando ele estava na metade da circunavegação dele (www.sunriseflight.com). É incrível pensar que ele já voltara para casa há 6 semanas enquanto eu ainda estava voando ao redor do mundo. Certamente voar exclusivamente em condições visuais trás certas limitações, mas isso não me incomoda. Semana passada, Michel tinha mandado um e-mail dizendo que todos os pilotos brasileiros voando de Ximango ao redor do mundo eram obrigados a ficar na casa dele! Muchas gracias pela hospitalidade, Michel e Marie-Laure, foi maravilhoso encontrar me com vocês novamente. Onde será que nossos caminhos vão cruzar da próxima vez?

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