Nome (Alasca)–Anadyr (Sibéria) via Gambell – 835 km

Cruzando o Estreito de Behring com Yakov... espaço bem estreito dentro da cabine!

Cruzando o Estreito de Behring com Yakov… espaço bem estreito dentro da cabine!

26 de julho de 2001

Resumo de vôo: A decolagem mais pesada até agora: 11 horas de combustível com duas almas a bordo. Cinco horas de vôo, na maior parte a 300 pés. Vento de proa de 20-25 nós (37-46km). Obviamente, sem planeios!

Decolamos de Nome com teto baixo e voamos a uma altitude de 300 pés (100 metros) abaixo da camada até Gambell, vilarejo na ilha de St. Lawrence localizada no meio do Mar de Bering entre Alasca e Sibéria. Em alguns lugares, as nuvens desciam até o mar. Mantivemos contato rádio com a cidade de Nome por VHF pelos primeiros 20 minutos, e depois usamos o telefone satelital para saber das condições meteorológicas em Gambell. Quando em fim chegamos a Gambell, o teto ainda estava a 300 pés, mas a visibilidade abaixo disso era boa, como vocês podem ver na foto. O vento, de 240 com 23 nós (42 km/hora), infelizmente era de través para pista 16. Tentei algumas vezes fazer a aproximação para o pouso, com a idéia de entrar em contato com o aeroporto de Provideniya por telefone e descansar um pouco da tensão desse vôo. Porém, com o fortíssimo vento de través e a carga pesada a bordo, havia um risco sério de danificar o trem de pouso ou quebrar alguma coisa. A cada aproximação, quando estávamos a dois ou três metros acima da pista, amarelei, coloquei toda a potência e arremeti na última hora.

Continuamos, então, rumo à Rússia, felizmente conseguindo falar com Provideniya pelo rádio HF na hora de alcançar a fronteira. O teto subiu para 500 pés, no máximo, e seguimos abaixo dele, sobre a água gelada. Confirmamos a Provideniya que prosseguiríamos até Anadyr, onde sabíamos que o teto era muito alto – 1.300 pés! – bem melhor do que a situação em Provideniya.

Seguimos sobrevoando o mar de Bering e o tempo estava melhorando aos poucos até, de repente, a 30 milhas de Anadyr, não havia mais condições de ficar abaixo da camada. Tivemos que subir. Por sorte, a camada era fina, e passamos a voar acima dela a 2.000 pés de altitude. Aí, quando enfim estávamos alcançando a terra a 13 km do aeroporto, as nuvens se evaporaram e – ufa! – condições CAVOK (completamente claro) para a aterrissagem nessa enorme base militar russo.

Para minha surpresa, havia um canal de TV esperando para fazer uma longa entrevista. Eles sabiam tudo sobre o vôo através de artigos nos jornais da cidade, resultado dos inúmeros faxes mandados por Yakov há um mês. Todos nos receberam muito bem. Uma Toyota chegou, trazendo o governador da província de Cukotskii para nos cumprimentar, acompanhado de VIPs da cidade e do estado. Anatoli Hawrjusekenko, percebendo que eu não estava conseguindo me conectar no telefone satelital, ofereceu o celular do seu carro para que eu ligasse para Margi no Brasil. Não quis abusar do telefone dele, então só disse, “Olá querida, conseguimos! Estou em Anadyr! Está tudo bem, pode dormir tranqüila.”

Com a tensão e o estresse provocados pelas condições climáticas dos últimos dias, um detalhe importante escapou da minha atenção. Íamos cruzar a International Date Line (linha de mudança de data)! Com isso, decoláramos de Nome no dia 26 de julho e aterrissamos em Anadyr, cinco horas mais tarde, no dia 27 de julho – envelhecemos um dia, sem sentir nada!

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