Brindisi-Biella-Aosta (Itália)-Lausanne (Suíça) – 1.130 km

Depois de tantas batalhas recentes, no ar e em terra, curti o visual mediterrâneo de Brindisi, Itália

Depois de tantas batalhas recentes, no ar e em terra, curti o visual mediterrâneo de Brindisi, Itália

29 de agosto de 2001

Ao chegar ao lado do avião em Brindisi pronto para decolar para Biella, perto de Torino, conheci um jovem casal italiano que estava passando as férias no sul da Itália, viajando de helicóptero Hughes 300. Tinham uns 25 anos de idade e havia uma barraca amarrada do lado de fora do helicóptero. Parabenizei-os pela iniciativa e espírito de aventura – que maravilhoso modo de viajar, baixinho e devagar, pela paisagem italiana. A maioria dos donos de helicóptero nunca estariam dispostos a dormir em barraca.

Fiz os habituais cheques de motor e estava pronto para decolar às 07h00. Após dez minutos de vôo, senti preocupantes vibrações no motor que nunca houve antes. Em seguida fiz uma volta 180 graus e aproei o aeroporto enquanto tentava descobrir a causa do problema. Não estava nem um pouco nervoso porque havia grandes praias abaixo, completamente vazias a essa hora da manhã. Pensei que a raiz do problema poderia ser uma de duas coisas: a) conforme um e-mail recebido um dia antes de Jean-Luc Lentel, distribuidor do Ximango na França, combustíveis inadequados usados pelo caminho poderiam bloquear o carburador l e deixar apenas dois cilindros funcionando, ou b) sujeira nas velas – sabia que elas precisavam de uma limpeza. Quando liguei para a Torre de Brindisi para avisar que estava voltando ao aeroporto, o controlador me perguntou se eu estava em emergência. Disse que não. Mesmo assim, quando já estava no solo taxiando, vi quatro carros dos bombeiros e uma ambulância voltando à garagem. Sem dúvida, melhor prevenir…. Ao abrir o motor, vi que eram justamente as velas responsáveis pelas vibrações. Levei uma hora para limpa-las da sujeira acumulada como resultado do alto teor de chumbo em alguns combustíveis que usara.

Decolei novamente às 09h30 em uma maravilhosa condição de tempo. Prevenido que na Itália havia uma complicada rede para vôos visuais, resolvi fazer todo o caminho até Biella abaixo de 2.000 pés. Já tem um mês que estou voando sempre nas aerovias, à altitudes altas, e foi uma oportunidade muito bem vinda voar baixo, tirando fotos e filmando. Me diverti muito subindo pela costa Adriática, por cima de Ancona, Pésaro e Rimini. As praias estão totalmente cobertas de guarda-sóis de todas as cores, plantadas em fileiras rígidas, e quase não da para ver a areia!

Sem exceção, os controladores italianos foram prestativos, e nunca recusaram meus pedidos de fazer um vôo direto. Durante as últimas duas horas do vôo, segui a vale do Rio Po passando pela faixa verde da Itália e alcancei Biella seis horas depois a decolagem. Renato Galter e Domenico, que tanto fizeram para organizar meu vôo pela Itália, me esperavam junto com o presidente do Aeroclube de Biella e vários sócios. Fiquei surpreso de ver uma equipe da TV italiana, a RAI, e foi um prazer rever Maurizio Gunelli, editor da revista Volare, que veio especialmente de Milano.

Já havia uns dois dias que dois amigos pilotos na Suíça, Flemming e HG, me preveniam por e-mail sobre uma frente que chegava da França e poderia fechar meu caminho pelos Alpes. A frente começara a se locomover mais rapidamente e ficou claro que, se não continuasse imediatamente, poderia ficar preso vários dias do lado sul das montanhas. Pedi desculpas aos amigos italianos e me preparei para decolar novamente duas horas mais tarde. O presidente do aeroclube me ofereceu a gasolina necessária para chegar à Suíça, e voei até Aosta para fazer a alfândega. A Suíça não faz parte da EEC. O vento já estava soprando a 20 nós, com rajadas de 25 nós. Fiquei meio nervoso, não somente para pousar, mas também pensando na travessia dos Alpes. Felizmente, era um vento orográfico, afetando apenas o vale onde fica a cidade de Aosta, e não os cumes das montanhas.

Fiz a alfândega em apenas 10 minutos, e decolei novamente, subindo em círculos acima de Aosta até alcançar 12.000 pés, altitude suficiente para voar pelo Col Saint Bernard com margem de segurança. Eu estava muito feliz de estar num motoplanador, porque havia correntes ascendentes ideais perto de Aosta que me deram uma razão de subida de 1.000 pés/minuto. Foi a primeira vez que piloto um avião nos Alpes. Cumes como Grand Combin, Vélan e os Dentes do Midi surgiam à minha volta. Foi muito impressionante – muito mais do que nos vôos que fiz por regiões montanhosas no Canadá e no Alasca. Minha preocupação sobre a turbulência e as correntes descendentes não foi justificada, e passei com facilidade. Ai, em questão de minutos, já estava sobrevoando lugares familiares como o vale do Rhone, com o Lago Leman logo à frente. Quinze minutos mais tarde, Serge veio ao meu encontro num PA28 quando estava quase entrando no circuito de tráfego para o aeroporto de La Blécherette em Lausanne.

Confesso que estava bastante aliviado de estar em terra novamente. Não tive tempo de avisar aos meus pais que estava chegando: souberam através da Margi no Brasil, que tinha ligado para Renato na Itália! O mau tempo já estava se aproximando do Oeste e naquela noite, as tempestades começaram. Graças à esperteza dos meus amigos pilotos, o timing foi perfeito. Não havia condições de voar nos Alpes suíços nos próximos três dias.

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