Macau–Nha Trang (Vietnã) – 1.600 km

A ilha de Guishan, no imenso estuário do rio Pérola, entre Macau e Hong Kong. Foto Gérard Moss

A ilha de Guishan, no imenso estuário do rio Pérola, entre Macau e Hong Kong. Foto Gérard Moss

13 de Agosto de 2001

Poderia ser pior?

Levantei as 2:45 da manhã para pegar um táxi às 3 para o terminal. Eram as 04h00 quando embarquei para Macau. William e Mark da Air Luxor me pegaram em Macau – que tratamento maravilhoso, eles deram para mim e para o Ximango. Eu recomendo Macau para qualquer um que tenha idéia de voar por esta área.

De acordo com o aviso do Controle de Hong Kong, eu deveria decolar da pista 16, apesar dos 10 nós de vento de cauda, para facilitar o trabalho deles e evitar a obrigação de seguir um corredor tedioso. Tinha 12.5 horas de gasolina a bordo, então foi uma lenta subida com CBs por todos os lados, ficando difícil de encontrar um caminho para passar. Logo após a decolagem escutei, de repente uma voz dizendo “Parabéns, Gérard” na freqüência de Hong Kong, seguida por “123,4” (indicando que esta pessoa queria falar comigo nesta freqüência). Era um piloto paulistano – lamento mas esqueci o nome dele – que me desejava bons ventos. Falando em ventos, estou novamente com vento de cauda – quem são essas pessoas que continuam me dizendo que estou fazendo toda esta viagem no sentido errado? Além disso, em termos de luz do dia, este é o melhor caminho, porque sempre ganho uma hora ou duas em cada vôo em vez de perder!

Uma hora fora de Hong Kong, os CBs sumiram. Eu estava a 10.500 pés quando o controle me pediu para descer a 8.500 pés devido às atividades militares à minha altitude. Estava me aproximando da ilha de Hainan (onde o avião espião americano fez um pouso de emergência recentemente depois do incidente com um avião de caça chinês), portanto nada de criar confusões – obedeci às ordens. A aerovia me levou a Danang, no Vietnã Central, e posteriormente ao sul para a cidade de Ho Chi Minh. Quando estava a 50 milhas (90 km) da cidade, um monstruoso CB bloqueou minha passagem. Tentei encontrar um caminho pela costa, mas o vento e a turbulência estavam insuportáveis. Tentei passar pelo interior ao Norte. O caminho parecia limpo, mas depois de quase uma hora procurando por um buraco, estava exausto.

Por quase duas horas, tentei desesperadamente encontrar um jeito, com a cidade sempre a uma distância tentadora. Por fim, tive que aceitar a derrota. O dia estava terminando e eu ainda tinha que sair desta confusão toda e procurar um porto seguro antes do por do sol. A tempestade continuava vindo em minha direção, mesmo me prendendo por algum tempo até finalmente eu encontrar uma saída para chegar no oceano.

A essa altura, já tinha estado no ar por 10 horas seguidas, voando manualmente desde que o piloto automático pifou. Estava sobre um estresse considerável, com o Controle de Ho Chi Minh me perturbando sem parar sobre minha posição mas, em contrapartida, nunca respondeu às minhas perguntas sobre as condições do tempo e aos meus pedidos de conselho sobre a melhor aproximação para evitar a tempestade, se era pelo oceano ou por trás.

O mau tempo estava avançando por cima de mim numa velocidade assustadora e eu queria sair fora de toda esta encrenca. O aeroporto mais próximo era Nha Trang, ainda uma hora de vôo do caminho de volta da onde tinha vindo. Informei o Controle das minhas intenções. Parecia não haver comunicação de rádio em Nha Trang. Depois de dar muitas voltas em cima do aeroporto, pousei. Julgando pela fúria aparente nas caras das pessoas que me receberam quando desci do avião, ficou evidente que apesar de me livrar das encrencas no ar, agora eu estava bastante encrencado no solo. Já havia uma mensagem do Ministério da Defesa como também do Departamento da Aviação Civil vietnamitas dizendo que “o avião e o piloto estão sob custodia e não podem sair do aeroporto até ordens posteriores”.

Os chefões comunistas locais chegaram da cidade para me interrogar, ostensivamente queriam descobrir se eu era um espião. Mr Hao me ajudava atuando como um intérprete. Recebi um sério aviso que em hipótese alguma deveria colocar um pé fora do terminal, ou seria colocado em seguida no xilindró. Vou pegar o saco de dormir e passar a noite aqui no terminal. Meu novo amigo Thao, o controlador, mandou alguém pegar comida para mim. Ótimo, estou faminto! Estou escrevendo enquanto espero a comida chegar e mandarei isto para vocês pelo sistema de telefonia do avião.

Portanto, as coisas poderiam ser piores? Acho que sim. Nha Trang é uma bonita cidade de pescadores. Os vietnamitas são gente boa. Tenho certeza que vão entender a minha situação. Margi vai colocar no site algumas fotos da cidade tiradas durante uma visita aqui há dez anos!

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