Punta Arenas-San Pedro do Atacama

Uma das paisagens mais espetaculares de todo o continente: Torres del Paine. Foto Margi Moss

Uma das paisagens mais espetaculares de todo o continente: Torres del Paine. Foto Margi Moss

19 de janeiro – 06 de fevereiro, 1997

ROTA: Chile: Punta Arenas, Balmaceda, Coihaique, Puerto Aisén, Melinka, Puerto Montt (La Paloma), Puerto Varas, Pucón, Temuco, Isla Mocha, Santiago (Los Cerrillos), Serena, Calama

De volta a Punta Arenas, alugamos um carro e fomos até o parque nacional Torres del Paine. Guanacos pastam tranqüilamente com um pano de fundo dos mais marcantes do mundo: picos de granito que surgem retos das planícies.

O voo de Punta Arenas rumo ao norte exigia cautela. Deveríamos seguir viagem sobre o território chileno, mas a fronteira entre o Chile e a Argentina passa pela Cordilheira dos Andes, uma área complicada para vôos de aviões leves. Entre Punta Arenas e Puerto Montt, uma distância de 1.300 quilômetros, só havia um aeroporto com suprimento de Avgas — Balmaceda. Foi uma luta para conseguir permissão para entrar no espaço aéreo argentino. Os ventos de proa chegaram a 60 nós enquanto as correntes ascendentes nos levavam a 13.000 pés de altura (4.100 metros), sem qualquer esforço por parte do Romeo. Levamos quatro horas para alcançar Balmaceda, comunidade de 800 pessoas num largo vale amarelo.

No dia seguinte, decolamos cedo para atravessar a cordilheira pelos vales do Rio Simpson e Rio Aisén. Ao nos aproximarmos de Puerto Aisén, demos com uma muralha de chuva. Impossível passar pelo curvado fiorde Aisén, com montanhas por todos os lados, sem visibilidade. Pousamos em Aisén e fomos tomar café, aguardando uma melhora. Esperamos o dia todo e nada da chuva parar.

Felizmente, o dia seguinte nasceu bonito. Ao deixar o fiorde Aisén e chegar aos canais do oceano Pacífico, resolvemos sobrevoar a Geleira San Rafael, no sul. Após 40 minutos de vôo calmo, chegamos à geleira, mas logo vimos que havia outra muito maior, resplandecente sob os raios de sol. Era a geleira de San Quintín, enorme, parecendo mais uma paisagem da Antártida. Deixando para trás o gelo, subimos pelos inúmeros canais que ziguezagueiam pelas ilhas intocadas com florestas descendo até o mar.

Voar nos céus chilenos é descobrir um mundo novo a cada dia. Deixamos para trás as paisagens selvagens da Patagônia e agora à nossa frente abrem-se vistas panorâmicas: a cadeia nevada de vulcões e lagos bem azuis. Alguns dias antes de chegar a Pucón, um pequeno balneário aos pés do vulcão Villarrica, à beira do lago que leva o mesmo nome, sentimos cheiro de gasolina dentro da cabine do avião. Para verificar as conexões embaixo do chão da cabine, Gérard desmontou nosso tanque adicional, tirou toda a bagagem da área central e foi procurar a origem do vazamento. Felizmente, o culpado era um dos seletores. Depois de esvaziar toda a gasolina da asa direita (que foi aproveitada na asa esquerda, é claro!), ele fechou temporariamente o seletor defeituoso com selador. Um jeitinho até chegarmos a Santiago, onde fora feito o serviço de manutenção de 50 horas de vôo. Depois de consertar o vazamento de gasolina nos seletores e resolver um problema com a hélice, aproamos o deserto de Atacama, ao norte.

Em Calama, a 2.300 metros de altitude, era a primeira vez nesta viagem em que pousávamos num aeroporto mais alto (um bom treinamento para pousos em altitude). Uma aterrissagem nessas condições exige muita concentração, porque o avião desce rápido e há risco de bater no solo antes de chegar à pista de pouso. A cidade de Calama fica ao lado de Chuquicamata, a maior mina de cobre a céu aberto do mundo, que, além do cobre, gera grandes quantidades de poeira e emissões de ácido sulfúrico.

A 100 quilômetros, fica San Pedro de Atacama, uma aldeia pré-hispânica agachada ao lado de um vasto salar (lago seco de sal), na sombra de uma fila de vulcões nevados de mais de 5.600 metros de altura. Um programa imperdível é a visita ao campo de gêiseres de El Tatio. Às 6 horas da manha, no campo de gêiseres, a mais de 4.000 metros, a temperatura é bem abaixo de zero. Há gelo no solo onde dezenas de gêiseres expelem vapor e água fervendo. Quando o sol aparece por cima dos picos nevados, o vapor dos gêiseres fica branco brilhante. As pessoas entram e saem das nuvens de vapor como almas perdidas. Quando os raios do sol esquentam o ar, a fumaça vai sumindo. Um por um, todos os gêiseres viram humildes sopros e respingos.

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