Parc National des Virunga, Congo

O olhar plácido de um membro da família de gorilas que acompanhamos. Foto Gérard Moss

O olhar plácido de um membro da família de gorilas que acompanhamos. Foto Gérard Moss

29 de novembro de 1989

A mata ao nosso redor estava cheia de gorilas. Seus olhos, marrom-aquosos ou pretos, eram expressivos. Seu pêlo grosso e brilhoso estava limpo, apesar do local enlameado. Um cheiro estranho, mas não desagradável, impregnava o ar e flutuava morro acima. Eram 24 ao todo, liderados pelo silverback, o macho dominante cujo pêlo das costas, com a maturidade, assume uma sofisticada tonalidade prateada. Estava bem a par de nossa aproximação, muito antes de os termos avistado.

Antes de se habituar à presença humana, teria ficado de pé e batido no peito como sinal de aviso. Em vez disso, lançou-nos um olhar desdenhoso como se dissesse “Que bando mais desajeitado são vocês”, e continuou a mastigar suas folhas.

Fomos esmagados por seu senso de superioridade: olhava-nos literalmente de cima a baixo e, compreensivelmente, desaprovava o que via. Não deixava dúvida de que nós e o restante de nossa raça sanguinária merecíamos seu desprezo. Mas tolerava nossa presença. Gorilas são gigantes gentis, e ele aprendera que essas visitas matinais dos humanóides não representavam perigo algum.

Do livro A Volta por Cima – ed. Record

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