Travessia do Atlântico

22 de junho de 1989

Rumo ao leste, rumo ao sol nascente, acima do Atlântico.

Rumo ao leste, rumo ao sol nascente, acima do Atlântico.

Eu ansiava pela terra firme de Fernando de Noronha, a ilha que deixamos para trás. Como desejava ainda estar lá! A vida parecera tão eterna, tão indestrutível enquanto caminhávamos de volta ao aeródromo após o jantar no único hotel da ilha, numa antiga caserna do exército americano. A estrada desdobrara-se à nossa frente como uma fita cinzenta, banhada pela claridade de uma lua oval palpável. Num coro estridente que vinha dos pântanos, centenas de sapos nos dedicaram uma serenata. De braços dados, acariciados pela brisa do mar, respirávamos fundo o ar cálido impregnado da fragrância do capim silvestre. Vivemos aqueles momentos intensamente, como se estivéssemos fazendo a contagem regressiva para um vôo espacial.

O cenário era eletricamente romântico. Mas a apreensão pelo que estávamos por fazer – levantar vôo num pequeno avião e atravessar 1.350 milhas náuticas (2.500 km) do Oceano Atlântico – esmagou qualquer inspiração para um beijo apaixonado que poderia parecer uma despedida. Não era hora para despedidas: estávamos para começar a viagem de nossas vidas, em terras distantes e exóticas.

Se ao menos conseguíssemos chegar ao outro lado…

Do livro A Volta por Cima – Ed. Record

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