10 de setembro de 2001
O céu estava claro sobre a Grã Bretanha. Mas o vento, para cruzar o Canal da Mancha (só 66 nm, 100 km) estava contra. A alfândega francesa estava avisada do meu vôo para Inglaterra, mas ninguém apareceu para me incomodar. Melhor para mim. Também não havia ninguém na torre: por terem trabalhado todo o fim de semana, os controladores folgam na segunda feira. Com isso preparei meu vôo completamente sozinho – ou quase, porque estava acompanhado pela equipe responsável para cortar a grama do aeroporto: as ovelhas da foto de ontem.
A Pista 31 em Dieppe é como uma catapulta sobre o Canal, apontando na direção certa. Em segundos estava sobre águas azuis, falando com os controladores de Paris para abrirem meu plano de vôo (obrigatório para vôos internacionais). Os pilotos locais com que falei ontem nunca voariam por esta rota para a Inglaterra. Ao invés disto, eles iriam rumo ao norte até Calais para cruzarem a menor distância possível sobre a água, porém acrescentando uma hora na jornada. Eles me recomendaram muito seguir esta rota. Fingi que faria isso. Mais tarde, já na metade do caminho, pensei neles e dei umas gargalhadas. Se eu sofresse uma pane no motor naquele momento, o maior problema seria evitar bater nos muitos petroleiros, navios cargueiros, barcaças, barcos de pesca e veleiros!
O tempo freqüentemente causa dificuldades para vôos na Grã Bretanha, mas os controladores do trafego aéreo não me atrapalharam. Como na França, é possível voar a uma altitude de 1000-1500 pés, mantendo-se fora das zonas controlados, sem ter que falar no rádio. Falei com o serviço de Radar para pedir permissão de cruzar o centro de Londres. Poderia ter contornado a cidade, mas queria tirar fotos. O controlador aceitou e me mandou reportar no vertical do aeroporto de London City, passando pelo Domo do Milênio. Depois, fui planar durante meia hora, em excelentes condições e com a base das nuvens cúmulos a 3000 pés.
Quando me aproximei do aeroporto de Denham, a Torre estava falando de ventos que variavam entre 310 e 340 a 15 nós, com rajadas de 20 nós, e a pista 06 em uso. Perfeitas condições para eu dar uma espetacular batida aterrissando na frente das equipes de TV, incluindo a CNN! Não era apenas um forte vento de través, mas possivelmente um través de cauda. Fiz uma aproximação alta, descendo a mais de 1000 pés por minuto. Uma rajada de vento de cauda me levantou na hora que estava arredondando para o toque e me fez comer muita pista. Não foi um pouso bonito, mas segurei. Fiquei surpreso quando me cumprimentaram pelo pouso. Depois, entendi porque. Alguns pilotos estudantes estavam treinando toque e arremetida. Mesmo seus Piper Warriors sendo mais fáceis a pousar em vento de través que o Ximango, estavam fazendo manobras estranhíssimas acima da pista!
Logo vi um outro Ximango, G-XIMGO que pertence a George McLean, distribuidor da Aeromot para Grã Bretanha que veio voando desde Yorkshire. Terry Potter e Giles Nicklin, outros donos de Ximango, também estavam presentes e soube que ainda mais dois novos foram embarcados em Porto Alegre. Susie Dunbar tinha organizado uma comitiva de que incluía Jennifer Murray, piloto de helicóptero que voou um Robinson R44 ao redor do mundo, uma vez acompanhada e outra sozinha. Marcos Losekann da TV Globo é o primeiro jornalista que teve coragem de voar comigo. Com os fortes ventos de través, ele não escolheu o dia perfeito para um jornalista de primeira viagem. Parabéns Marcos, você sobreviveu até quando desliguei o motor sobre Londres! Mesmo Margi não estando aqui comigo, foi muito especial ter Margery, Liz, Muti e Paul no aeroporto para me receber.
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