3-4 de setembro de 2001
Ainda bem que cheguei mais cedo do que o previsto na Suíça, porque o tempo fechou durante três dias. Foi uma benção já que pude finalmente descansar um pouco – estava precisando – e aproveitar a boa comida da minha mãe. Vocês me desculpem se não escrevi nada antes, mas tive outra distração: Margi veio me fazer uma visita. Há dois meses que a gente não se vê: fiquei meio ocupado com outras coisas. Também aproveitei para mostrar o Ximango para muitos amigos e curiosos e finalmente, no domingo, acordamos com céu azul… Não hesitei. Fui voar nos Alpes, em companhia do Mooney dos amigos Flemming e Angela Pedersen que vieram de Genebra. Mais tarde decolei novamente para uma sessão fotográfica, com o Ximango usando os Alpes como pano de fundo para o fotógrafo Jim Rimensberger pilotado por Pierre. Jean-Louis Broddard encheu meus tanques com gasolina de carro de alta qualidade, o mais adequado para o motor Rotax. Obrigado, amigos !
Voar na Suíça é maravilhoso. Não precisa fazer plano de vôo, nem falar com os controladores. Basta manter o vôo abaixo de certas altitudes que variam de acordo com a proximidade aos grandes aeroportos como Genebra e Zurique. No aeroporto de La Blécherette, em Lausanne, onde no fim de semana os aviões pousam e decolam o dia todo, nem tem Torre de Controle. Cada piloto comunica suas intenções na freqüência Unicom e vai em frente. Por exemplo, posso decolar e voar nas montanhas sem ter que reportar para nenhum controlador. Estou encantado com essa liberdade que é comum nos Estados Unidos e que não esperava na Suíça, um país tão pequeno, altamente habitado e cheio de montanhas. Porque, com um tráfego aéreo bem menos intenso no Brasil, com sua enormidade de terras e seu céu tão grande, há tantas restrições?
Na segunda-feira, o dia nasceu com um céu ainda mais limpo que no domingo. Estava convidado para uma coletiva de imprensa na chiquérrima cidadezinha de Gstaad onde, junto comigo, estariam participando Bertrand Piccard e Mike Horn. O evento, organizado pela Victorinox, visava apresentar três visões diferentes do mundo. Piccard e o colega Brian Jones realizaram o ultimo grande feito da aviação, à volta ao mundo de balão. Mike Horn também deu sua volta, sozinho, a pé, de veleiro e a bicicleta pelo equador. Piccard e Jones voaram muito alto e não pararam, Horn não saiu do chão e podia parar a toda hora e eu estou meio entre os dois: vôo e paro sempre.
Antes de pousar no aeroporto de Saanen (perto de Gstaad), não resisti a outro vôo pelos cumes nevados, acompanhado novamente por Serge Landry, esta vez de Katana com Margi filmando. Saanen fica dentro de um vale muito estreito (e bota estreito nisso) com montanhas altas por todos os lados. O dia estava tão lindo que foi tentador não acreditar na previsão meteorológica para hoje: muita chuva. Vários pilotos me avisaram: se você não tirar o Ximango de Saanen imediatamente, vai ficar preso por alguns dias. Antes do jantar comemorativo no Gstaad Palace Hotel (veja na foto), decolei para Grenchen onde o Ximango iria passar um dia na oficina. Alguns amigos me acompanharam no vôo de 25 minutos, com fortíssimo vento de cauda (voei a 130 nós), num Turbo Arrow, e me trouxeram de volta ao Gstaad para o jantar.
Ainda bem que segui as recomendações. Hoje de manhã em Gstaad, as montanhas tinham sumido. As nuvens se arrastavam pelo chão e chovia forte. Teria sido impossível decolar de Saanen. Fui de carro até Grenchen com Benno e Marianne. Roger Christen da Christen-Airtech instalou o novo piloto automático e o pessoal da Farner cuidou do motor Rotax. Agora dizem que o tempo vai colaborar amanhã para que eu possa finalmente continuar meu vôo com tudo funcionando cem por cento de novo.
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