17 de agosto de 2001
Por decisão do governo, não há Internet em Myanmar (antiga Birmânia)! Estou usando o computador do hotel (que tem um teclado bem interessante!) conectado a um sistema chamado Intranet, através do único provedor no país: o Governo!
Foi difícil chegar até aqui de U-Taphao, na Tailândia. Normalmente, o vôo de 380 km deveria levar quarto horas. Levou sete. Tive que desviar para o mar de Andaman e muitas vezes, voar um rumo oposto ao ideal, só para driblar as tempestades. Quando pousei, foram mais cinco horas de burocracia entre meu visto, a papelada do avião e o combustível. Não havia Avgas no aeroporto, então tive que tentar comprar gasolina no posto. Como o país é uma ditadura militar, até a compra de gasolina é controlada pelo Governo e é preciso ter voucher de gasolina. Além disso, não aceitam dólares. Tudo deve ser pago em FECs, “Foreign Exchange Certificates” – certificados de câmbio. Por fim, consegui dois galões de gasolina e, cansado, cheguei ao hotel Summit Park View, onde me ofereceram uma suíte magnífica com vista para o famoso pagode dourado. Tudo isso, graças ao meu amigo Wolfgang em Hong Kong. Ele entrou em contato com Srta Linie, gerente do hotel, que mandou um carro para me receber no aeroporto. Mais tarde, em homenagem a ele, jantei em seu restaurante preferido, o Green Elephant. A maioria dos pratos birmaneses é apimentada demais para mim e olhe lá, eu gosto de um curry bem picante!
Hoje, decolei às 06:45 hora local com teto muito baixo mas, pelo menos, visibilidade boa. Mas os ventos de proa eram muito fortes, fazendo minha velocidade cair para apenas 70-80 nós com plena potencia. Havia também bastante chuva, mesmo dentro da cabine. Tive que desviar das chuvas mais pesadas e logo depois, cheguei acima das montanhas que separam Yangon da Baía de Bengala. Pretendia seguir a costa, voando baixinho para manter condições visuais o tempo todo. Porém, depois de 1.5 horas de vôo, estava a apenas 85 km de Yangon, com mais 740 km na minha frente até Chittagong (Bangladesh) em linha direta, o que seria difícil de manter. Quantos desvios eu teria de fazer antes de alcançar Chittagong? Fiquei preocupado sobre o combustível. Foi uma luta comprar os galões e encontrar um posto vendendo gasolina de alta octanagem. Como ela é controlada pelo Governo é difícil de se conseguir, então eu não tinha enchido os tanques. Não esperava enfrentar ventos de proa tão fortes. Tomei a decisão de voltar a Yangon – e com os ventos de cauda, cheguei em 30 minutos. Tive que fazer outra viagem até o posto e convencer o gerente de me vender 100 litros (ontem comprei só 55 litros).
Estou bastante preocupado sobre o tempo. O serviço de meteorologia no aeroporto é fraco, para não dizer outra coisa. Me avisaram que há uma tempestade tropical em formação, o que poderia tornar se um furacão, e que está a caminho. Minha equipe no Brasil não consegue achar esse fenômeno pela Internet, apenas um sistema sério bem ao leste das Filipinas. Bom, alguma depressão está provocando ventos fortes de noroeste, trazendo muita umidade para a costa de Myanmar e de Bangladesh. Quando bate de frente com as montanhas, o tempo fica bem violento – pelo menos, é isso o que me dizem.
Depois de repetir todos os trâmites de ontem, e reabastecer novamente (com a ajuda indispensável do motorista do hotel, senhor My Tin Oo), sobrou um tempinho para visitar o templo onde se encontra o Shwedagon Paya, de 110 metros de altura. O original foi construído pela primeira vez há 2.500 anos. Quando eu puder usar meu computador novamente, mando uma foto.
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