9 de agosto de 2001
Foi um dia exaustivo, 10 horas e 15 minutos no ar (3h45 para Miyazaki e 6h30 para Ishigaki) sem piloto automático. Causando um aborrecimento muito grande, especialmente quando estou voando sobre o mar. A neblina me deixava sem horizonte definido, o que significa que tive que ficar com os olhos colados no horizonte artificial e no GPS. Na hora que desvio os olhos para ver outra coisa – a posição no mapa, por exemplo! – perco o rumo por 15 graus. Tentei várias vezes consertar esse aparelho – o System 20 da S-Tec –, procurando algum mau contato, mas agora acredito que o problema seja com o aparelho em si, mesmo que o fabricante no Texas não quer acreditar nisso. Considerando onde estou e quantas milhas ainda tenho pela frente nesta viagem, inclusive alguns vôos bem longos, é um problema sério caso não estejam dispostos a me mandar outro. Sou prisioneiro do horizonte artificial. Não posso tomar notas, descarregar os dados das pesquisas, nada. As fotos são tiradas, literalmente, ao tiro.
O dia começou às 6:30 da manhã. Fiquei sem graça porque o Sr. Kakuta teve que se levantar muito cedo por minha causa. Ele foi muito hospitaleiro e generoso – tivemos um excelente jantar regado a cerveja, me ofereceu um quarto no seu hotel em Ise com um enorme buquê de orquídeas, e por cima, me deu 100 litros de combustível. Agradeço novamente ao Sr. Issei Imahashi por ter me guiado pelo Japão e ter me ajudado tanto, especialmente com os papéis requeridos pela incansável Alfândega. Já voei por 86 países pelo mundo e é a primeira vez que tive que entregar declarações alfandegárias para fazer vôos domésticos.
Quando chegamos no aeroporto, o Ximango já tinha sido içado por cima do muro de proteção, e colocado de volta na pista. Os funcionários do Sr. Kakuta devem ter acordado às 4 da manhã para fazer isto. A primeira perna de vôo me levou até Miyazaki, na ilha Kyushu, apenas para abastecer. Fiquei surpreso de ver a multidão de jornalistas e canais de tv que me esperavam! Representantes do DAC Japonês me convidaram para almoçar, mas infelizmente, eu ainda tinha 1.135 km pela frente antes do por do sol e não pude ficar.
Pela primeira vez desde que sai do Brasil – e logo agora que pifou o piloto automático – estava voando com vento de proa de uns 20 nós. O equador está ficando próximo. Tão pouco tempo atrás estava no Ártico e já estou chegando a 25 graus sul de latitude. Amanhã cruzarei o Trópico de Câncer. A temperatura está subindo: 34 C em Miyazaki. De lá, segui a linda cadeia das ilhas Ryukyu que formam uma barreira entre o mar do Leste da China e o oceano Pacífico. Isso me lembrou muito dos vôos pelo Caribe. Cada vez mais ilhas – com praias brancas e água limpa – surgiram na minha frente. Olhando no mapa do Japão, a gente não percebe como é comprido o país. Desde que cheguei no norte do Japão da ilha russa de Sakhalin, tenho voado mais de 20 horas – mais de 3.000 km – na direção sudoeste, e ainda estou em território japonês.
Enfim, cheguei na pequena ilha de Ishigaki, toda verdinha e banhada num solzinho de fim de dia. Foi muito bom aterrissar. Cheguei super cansado e com muita fome (perdi aquele almoço em Miyasaki), e depois de duas cervejas e uma boa comida, estou desmaiando!
Reconheço que fui extremamente privilegiado no Japão, podendo aterrissar em Gakuen e Kushidagawa. Em geral, todos os aviões leves estrangeiros que transitam pelo Japão fazem apenas uma parada. Eu desfrutei de quatro dias aqui. Sayonara, Japão, e arigato para todos vocês que me receberam tão bem.
Amanhã, vou sobrevoar Taiwan para chegar a Macau.
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