6 de agosto de 2001
Depois de dias de tempo bom, havia muitas nuvens no céu de Juzhno Sakhalinsk. Preparei o avião às 6:30 da manhã, prevendo uma hora e meia para realizar todos os trâmites. Yakov estava correndo sem parar por todos os departamentos e, como de costume, ele preparou toda a papelada perfeitamente. A inspeção da Alfândega foi marcada para as 08h15 e a decolagem para as 08h30, para um vôo de 7 horas a Niigata, no Japão.
Um pequeno grupo estava ao lado do Ximango. Decolar sem Yakov foi bastante triste, depois de tudo que vivemos e passamos juntos nestes últimos 10 dias. Nos abraçamos e Yakov, preocupado sobre a longa jornada que me esperava, disse: “Vá, vá, vá!”.
Fui! Adeus, Rússia e muito obrigado, de coração.
Ao decolar, percebi que o teto pelo caminho ia estar muito baixo. Quando os controladores me mandaram subir para 2100 metros, tive que responder Niet! As regras de vôo na região mandam seguir para o sudeste e reportar no ponto ODECO, então para ANIVA e finalmente, ARGO, a fronteira com Japão. O teto foi descendo cada vez mais e eu não podia manter o rumo. Informei ao controle de Sakhalinsk que ficaria a oeste da rota por causa das condições de tempo e eles concordaram. Periodicamente, me pediam as coordenadas, que visualizava facilmente no Garmim 430. Sempre me mantive bem afastado da terra, tendo sido avisado que havia muitos equipamentos militares instalados ali. Para minha surpresa, pude manter contato rádio com Sakhalisnk mesmo voando a 200 pés sobre o mar.
A costa leste do Japão estava sob a influência de um sistema de baixa pressão, fechado com nuvens grossas, mas a costa oeste supostamente estava clara então aproei a direção de Waakanai, na ponta da ilha japonesa de Hokkaido. Chamei constantemente na freqüência 127.50 passada pelo controlador russo, sem resposta. Meu vôo estava devidamente autorizado pelas autoridades japonesas, trabalho realizado pela Sra. Namba em Tokyo, mas não me sentia bem em entrar no espaço aéreo japonês sem antes falar com eles pelo rádio.
Para manter condições de vôo visuais, tive que ziguezaguear entre as nuvens, mas podia perceber que a camada estava ficando mais fina. De repente, o tempo melhorou e vi, logo à frente, a ponta da ilha – muito mais próxima do que imaginava. Fiz um desvio à direita para me manter afastado da terra, enquanto tentava contato com o controle de Sapporo. Enfim, abriu o tempo e pude subir. Já estava a 3.000 pés quando, por fim, consegui fazer contato com o controle de Sapporo. Expliquei o que houve, dei a posição ao oeste da aerovia e solicitei permissão para subir a 6500 pés, o que foi aprovado. Tudo parecia bem. Acabara de nivelar quando vi um vulto preto passando a alta velocidade pelo meu olho esquerdo. Antes que meu cérebro tivesse tempo de reagir, sumiu deixando para trás um estrondo assustador. Logo depois, um segundo avião de caça fez a mesma coisa.
Frio na barriga! Os caças deram uma volta grande (grande em termos de Ximango, mas muito apertado pela velocidade deles) e voltaram para o segundo passe. Sintonizei imediatamente meu rádio para a freqüência de emergência 121.50, e escutei a voz de um dos pilotos de caça, abafada pela máscara de oxigênio. Quais são suas coordenadas? ele perguntou. Achei a pergunta estranha, mas respondi. Silêncio… até quando eles voltaram pela terceira vez, desta vez ficando um pouco mais longe de mim.
Veio a instrução de contatar Head Work (Chitose) pelo rádio. O controlador calmamente me avisou que estava numa zona militar. Expliquei que tentava driblar o mau tempo, que já estava em contato com Sapporo na freqüência 132.4 e pedi instruções. Enquanto falávamos, os caças completavam a sétima ou oitava volta, também esperando instruções, não sabiam se me obrigariam a aterrissar na base aérea ou deixariam continuar em paz. Chamei novamente o controle de Sapporo, que me mandou ficar na escuta. Depois de um tempo interminável, com os caças sempre me rodando, o Controle Head Work me instruiu para contatar Sapporo novamente. Neste momento, os jatos fizeram uma curva acentuada para esquerda e desapareceram no horizonte.
O fato de já ter entrado em contato com Sapporo quando eles chegaram em cena deve ter sido minha salvação. Após verificar esta informação, fui liberado e salvo de ser acompanhado para a base aérea militar. Pelo menos, posso dizer que eles estão fazendo um bom trabalho.
As próximas horas foram bem tranqüilas, voando em excelentes condições meteorológicas a 8,500 pés e controlado o tempo todo. Enfim, quando estava na aproximação do aeroporto de Niigata, o controle me perguntou: “Você precisa de assistência? Vai fazer um pouso normal?” Minha imaginação correu solta. Será que os controladores estavam vendo veículos militares esperando a minha chegada? Mas nada disso! Lá estava Sr Issei Imahashi, que tem ajudado muito no planejamento do roteiro pelo Japão, me esperando no pátio perto do terminal. Mesmo depois de toda esta adrenalina, consegui pousar às 14h15 hora local, quinze minutos mais cedo do que o programado, depois de 6 horas e 45 minutos no ar.
Ali gastamos três horas no terminal, preenchendo formulários e realizando todos os trâmites burocráticos da chegada.
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