29-30 de julho de 2001 Okhotsk, Sibéria
Sobrevivemos do pouso sobre a pista de metal. Examinei a área toda em busca de uma alternativa para a decolagem. A pista de táxi tem bom tamanho, mas muitos buracos. Já a pista de terra batida, paralela à metálica, tem pedras grandes demais para as rodinhas do Ximango. Bom, amanhã a gente acha um jeitinho.
Nos divertimos muito ontem à noite no bar do cantinho, batendo papo com os pilotos de helicóptero, Lena a controladora e muitas outras pessoas. Desde que cheguei na Rússia, não vi nenhum restaurante. Bares, têm muitos, e felizmente, alguns também servem lanches e sopas. Confesso que bebemos algumas doses de vodka, e eu fui o primeiro a ir embora, à meia-noite e meia. Yakov, mais resistente, voltou de madrugada mas já estava de pé, sorridente, às 07h00 para checar o tempo. Estamos hospedados nas acomodações dos pilotos – uma casa de madeira colada na cerca do aeroporto. Não tem água encanada, mas não dou a mínima. O mais importante é ter luz para recarregar o equipamento. Para os que duvidam sobre os mosquitos, não é piada, nem frescura. Pode ser que faça frio na Sibéria e no Alasca, mas no verão, devido à abundância de água, tem mais mosquitos aqui, e muito maiores, do que no resto do mundo todo junto.
Já era Segunda-feira de manhã quando fiz a transmissão ao vivo para o Fantástico (muito curto, infelizmente, não foi possível mandar imagens à semana passada). Depois, fomos para a cidade de Okhotsk, a 50 km, dando uma volta pela baía. As árvores espruce estão em todas as partes. Há regras severas sobre o abate das árvores e as pessoas parecem respeitar. O mesmo vale para as licenças de pesca. No caminho para a cidade num jipe UAZ russo (custa US$3.000 novinho em folha), atravessamos muitos rios, cada um mais lindo que o anterior. Paramos na última ponte, uma de madeira sobre o rio Kuhtuy (palavra esquimó que significa calmo, tranqüilo), vi milhares de salmões subindo o rio para desovar. Que espetáculo! Nunca vi tantos de uma vez só, e fiquei muito feliz por eles.
Nosso motorista, Yuri, é muito prestativo e para cada vez que quero tirar fotos. Okhotsk, a cidade mais velha desta parte do Extremo Oriente Russo, foi fundada pelo Imperador Pedro I, e a região tem o tamanho da França. Todas as casas são feitas no mesmo estilo, de tábuas de madeira e com um só andar. Havia muita neblina quando chegamos à cidade e não víamos mais de duas casas à frente. Quando a neblina se dispersou, tirei boas fotos, inclusive uma de um mecânico consertando um jipe em frente à casa dele. Começamos a bater papo e descobri que era um médico coreano. Ele me convidou para entrar na casa e tomar chá. De repente, na tela da TV, vi a Carolina Ferraz falando russo! As novelas brasileiras são mais famosas na Rússia do que o futebol brasileiro: na verdade, isso é perfeitamente compreensível.
Lá fomos nós conhecer uma fábrica flutuante que industrializa o salmão, e que o lugar de trabalho muda a cada ano. Novamente, fomos recebidos com amabilidade e generosidade. Konstantiov, o dono, nos mostrou todas as operações da fábrica e depois nos convidou para comer caviar e beber vodka. O negócio de caviar é uma mina de ouro: o preço sobe todos os anos e o produto é cada vez mais raro (e portanto, imagino que tenha seus dias contados). A produção inteira é vendida antecipadamente para o mercado japonês.
Tentamos achar um lugar para dormir em Okhotsk, sem sucesso, tivemos que voltar para o aeroporto. Ali, num apartamento confortável, Yakov esquentou água para tomarmos banho de balde, e fez o jantar enquanto trabalhei no computador. Ele está cuidando super bem de mim. Um super amigo. Muito obrigado, Yakov, obrigado mesmo!
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