22 de julho de 2001
É incrível como estes dias voaram, mesmo tendo luz o dia inteiro. Já é meia noite eu estou escrevendo meu diário no hotel, e mesmo assim, estou com alguns dias atrasado. O vôo de 435 km de Whitehorse (Yukon) para Northway (Alasca) foi fácil e, tenho vergonha admitir, estou quase ficando blasé com as paisagens de montanhas nevadas depois de ter sobrevoado tantas no dia anterior. Eu tinha um teste marcado com o pessoal da Tv Globo, assim que eu aterrissasse na minúscula cidade de Northway, fronteira do Canadá com o Alasca. Uma vez em terra, liguei a comunicação via satélite da Embratel. Depois, foi rápido fazer a alfândega porque aviões pequenos passam aqui todos os dias e não é exatamente uma rota de tráfego de cocaína! Eu e o Ximango fomos devidamente catalogados no computador e logo liberados. Foi uma boa sugestão da parte do meu amigo virtual, Cam, de fazer a alfândega aqui em vez de Fairbanks. Sei que será a última alfândega fácil que vou enfrentar por um bom tempo!
Quando finalmente cheguei a Fairbanks (350 km de Northway), Cam ainda estava no trabalho e mandou Cathy e Heather para me recepcionar. Ele tem sido genial, recebendo encomendas da minha parte e reservando hotel, tudo isso através de contatos pela Internet. É piloto, guarda o avião dele em casa, lá na ilha de Baffin, do outro lado do Canadá.
Fui correndo bem cedo para o aeroporto no Sábado a procura de alguém que conserte o piloto automático, mas não vai acontecer nada até 2a feira, dia 23. Todo mundo foi pescar. E porque não, o tempo é maravilhoso – dias ensolarados com uma temperatura de 25-28 graus C. É o Alasca, sim! Apenas 1.5 graus de latitude distante do Circulo Ártico! Com o aquecimento global, aqui via ficar com clima tropical. Imagino já as palmeiras crescendo entre os espruces.
Meu co-piloto russo, Yakov Sabodin, chegou, graças a carona da FedEx. Juntos, passamos o dia arrumando o avião e os equipamentos, tudo para que ele tenha um pouco de espaço. Eu pensei que a cabine fosse apertada antes, quando na verdade estava sobrando espaço! É agora que as coisas vão apertar.
Desde que fui entrevistado pelos jornais locais, as pessoas vêm e falam “Espero que você consiga consertar o piloto automático!” Parece que tudo mundo nessa cidade sabe do vôo do Ximango. No domingo, ao esperar os técnicos da Globo prepararem a transmissão das imagens ao vivo para o Fantástico, bati um bom papo com Pedro Bial. Sensação engraçada. Eu aqui no Alasca, batendo papo com o Bial!
Jô e Clint, duas feras em computação, me ajudaram com a configuração do telefone satelital da Nera. Clint saca dessas coisas e em dois segundos, achou um programa para resolver o problema, e fizeram um back-up completo das fotos e dos dados das pesquisas para mandar de volta ao Brasil. Valeu, Clint!
As boas de hoje são que, às 23h00 de domingo aqui (11h00 de segunda feira em Moscou), Yakov conversou por telefone com Sr. Gennady, um chefão da Aviação Civil, e passou para ele os detalhes de nosso vôo para a Sibéria, obtendo o mágico número da autorização. Além disso, Yakov falou com o comandante militar em Anadyr, que confirmou que está tudo em ordem. Tudo indica, então, que estamos aprovados tanto pelas autoridades civis e as militares. Obter a permissão de vôo para a Sibéria não é nada fácil. Fui pessoalmente para Moscou em março e agradeço a grande ajuda de Roberto Colin, na embaixada brasileira em Moscou, que encaminhou a papelada pelos vários departamentos de Estado. Agora, só resta saber se tudo vai funcionar.
Mas, primeiro, preciso consertar o piloto automático (tomara que consiga amanhã cedo). Se não conseguir aqui no Alasca, é pouco provável consertá-lo antes de chegar na Europa – o que significa milhares de milhas e mais de um mês de vôo bastante cansativo pela frente. A cidade de Nome vai ser o último aeroporto nos EUA antes da travessia do estreito de Bering. Estou de olho na meteorologia, e vejo que há uma frente fria se aproximando.
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