17 de julho de 2001
A instalação do rádio HF e antena demoraram mais do que o previsto (como sempre!). Assim, somente fiquei pronto para decolar às 17h00, para um vôo que seria de duas horas e meia. Em geral, isso não seria um problema, visto que o pôr de sol aqui é às 21h00. Chamei à alfândega do Canadá para fazer os trâmites em Penticton (British Columbia), uma cidade na beira do lago Okanagan não muito longe de Vernon, meu destino final onde vou fazer o serviço de 100 horas no motor. As montanhas Cascade ao NE de Seattle estavam totalmente escondidas. Era pouco provável que conseguisse passar pelas Coastal Mountains no Canadá se fosse pegar o rumo de Vancouver. Um piloto local me deu uma dica. Seguir um vale remoto ao sudeste de Seattle onde passa uma linha de ferro desativada. Esse caminho me levaria perto de Ellensberg (uns 70 milhas SSE de Seattle), de onde poderia seguir outro vale para o norte.
Estava colocando a potência para iniciar o táxi quando apareceu na minha frente Michel Gordillo, piloto da Ibéria que também está realizando uma volta ao mundo, a bordo de um veloz MCR homebuilt (veja www.sunriseflight.com ). Mesmo antes de sair do Rio de Janeiro, tínhamos combinado de nos encontrar em Seattle, mas ele se atrasou com problemas pelo caminho. Não resisti, desliguei o motor e ficamos conversando. Resultado: atrasei mais 45 minutos no meu plano de vôo.
Quando, finalmente, alcancei o dito vale, tinha chuva e nuvens baixas por todos os lados. Procurei um jeito de passar, mas estava ficando cada vez mais escuro. Se não fosse tão tarde, poderia ter tentado outro vale, mais ao sul, mas ia chegar muito tarde em Penticton. Subir encima das nuvens não era bem uma opção. Além de ser um processo muito demorado, não tinha garantia de achar um buraco para descer no outro lado e os vôos visuais “on top” não são permitidos no Canadá.
Nem sempre quando tem nuvens no horizonte tudo dá errado. Voltei para Seattle (parece que não consigo sair deste lugar!) e encontrei novamente com Michel e a tripulação do Seneca III que está acompanhando a sua volta ao mundo desde Espanha. Jantamos juntos e, como vocês podem imaginar, foram muitas histórias de aviador para contar!
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