16 de julho de 2001
Ontem (domingo) foi marcado por testes com a comunicação e a transmissão de imagens para o Fantástico. Tivemos sucesso na parte de transmissão, mas infelizmente não em vôo devido ao mau tempo. O teto era de 1.500 pés e a visibilidade de apenas 3 km. No Brasil, o aeroporto teria fechado muito antes, mas nos EUA, os controladores são flexíveis, deixando o piloto tomar suas próprias decisões, com o simples aviso que as condições de vôo são mínimas.
Assim consegui decolar para uma tentativa de transmissão ao vivo. Cheguei a voar cinco milhas ao leste do aeroporto, mas ao apontar a antena para o satélite me preparando para conectar, entrei numa nuvem sem querer. O teto estava caindo para apenas 1000 pés (300 metros) e é tendência era abaixar ainda mais. Não hesitei, voltei diretamente para o aeroporto de Boeing Field, e fui um dos últimos aviões a pousar. Logo depois, o aeroporto fechou mesmo. Não ia ser desta vez. Quem sabe onde estarei no próximo domingo…!Para quem quiser entender mais sobre esse assunto, explico a seguir. As imagens obtidas pelas câmeras instaladas na asa, no leme e na cabine, e o áudio captado pelo microfone, serão transmitidas do cockpit por uma estação portátil, com a antena instalada no interior da fuselagem do Ximango, logo atrás do banco do piloto, e um pequeno terminal, menor que um laptop.
Esta transmissão inédita, feita em velocidade de 64 kilobits/segundo, só é possível através da plataforma de satélites geo-estacionários da Inmarsat em conjunto com o sistema Movsat e a tecnologia da Embratel. Emprega equipamentos de alta tecnologia, desenhados para uso em sistemas móveis que reúnem requisitos de simplicidade operacional, portabilidade, baixo peso, baixo consumo de energia e condições de acesso a partir de qualquer ponto da rota a ser trilhada pelo avião.
Hoje, tenho ainda muitos preparativos a fazer, principalmente revisando e atualizando o equipamento de sobrevivência no mar, o bote salva-vidas e o EPIRB (localizador de emergência) da ACR. Além disso, segundo a informação que recebemos recentemente de Moscou através de meu colega Yakov, é obrigatório o uso de um rádio HF (“High Frequency” de longa distância) para voar nas regiões isoladas da Sibéria. Eu tinha esperanças que as autoridades aceitassem nossa comunicação por telefone, mas parece que não. Eu até entendo que, por ser uma região bastante isolada, talvez alguns lugares não tenham linhas telefônicas confiáveis. Na verdade, para voar por instrumentos em boa parte da Amazônia, o rádio HF também é obrigatório. Então vou passar o dia instalando o rádio HF. O problema principal está sendo ter que colocar mais um aparelho a bordo!
De qualquer maneira, como a previsão é de chuva por aqui, não é inconveniente ser obrigado a ficar em terra.
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