12 de julho de 2001
Resumo do vôo: 545 milhas náuticas. 6.5 horas de vôo, sem planeio porque tinha hora marcada com Yakov no aeroporto de Portland. Altitude max: 10,500 ft. Pouso interessante em Portland International!
Uma coisa que surpreende todos menos os americanos. Quando pousei em Salt Lake City, me ofereceram um “carro de tripulante” de graça. Agradecido, ofereci de encher o tanque antes de devolver, mas a recepcionista me disse, “Não se preocupe, a gente faz isso para você.” Que outro lugar no mundo daria as chaves de um carro a um forasteiro total, somente porque chegou num aviãozinho e encheu os tanques (no meu caso, com gasolina valendo míseros $110, de tão pouco!). E, melhor de tudo, sem papelada. “Quando termine com o carro, é só colocar de volta onde achou…”
Então, dois dias depois, devolvi o carro conforme me falou às 05h30, e estava no ar já às 06h15. Isso é incrível, levando em conta que SLC é um aeroporto de grande porte, necessitando taxiar por longas distâncias até a cabeceira, além da fila para a decolagem. Talvez estou conseguindo arrumar o avião (tem poucos milímetros de tolerância), instalar as câmeras e preparar o que vou precisar em vôo bem mais rápido.
Decolei com 210 litros de combustível, sem saber quanto tempo estaria em vôo nem o que ia encontrar pelo caminho. Estou testando o Ximango com pesos maiores. Ótima performance, uma razão de subida constante de 300 pés/minuto até 9.000 pés (não havia térmicas tão cedo pela manhã). Subi por cima do Great Salt Lake, um show de cores na luz matinal. Visto que meu rumo a Portland me levaria sobre uma região bem montanhosa, subi depois para 10,500 pés. Estou ficando dependente dessa mordomia do GPS Garmin 430. Ele me avisou de uma área proibida à frente, e me deu a freqüência a ser chamada. A controladora de plantão na Mountain Home Air Force Base parecia feliz de conversar comigo (provavelmente ela estava acompanhando há tempos minha aproximação de sua área pelo radar!) enquanto desviei da rota. Pensei que eu estava sozinho no mundo lá encima àquela hora, até que, de repente, vários F16s me passaram!
Após os desertos vazios do Utah, vieram as planícies do Idaho com seus campos irrigados espalhados pela terra seca. Por fim, apareceu a cadeia Cascade à minha frente, paralela à costa pacífica. Na distância, consegui distinguir os vulcões de Hood, Adams, St. Helens e Rainier. Ao mesmo tempo, vi uma linha escura destacada no horizonte à minha altitude. Espero que o filtro de poluentes esteja coletando tudo isso.
O monte Hood (11,240 pés, 3,426 m) surgiu exatamente no meu caminho, perto de Portland. Me diverti dando umas voltas. Só não cortei o motor porque não consegui achar nenhuma corrente ascendente. Ao contrário, havia momentos em que estava perdendo altitude mesmo com o motor ligado a plena potência. Bom, tinha bastante espaço livre por baixo. Era o primeiro encontro com neve nessa viagem (vai ter muito mais pela frente) e precisei do meu casaco.
Pousar num aeroporto internacional com um motoplanador é um desafio e tanto. Não somente para o piloto, que tem que se manter fora do caminho dos jatos pesados chegando para pousar na mesma pista, mas especialmente para os controladores. Eu tiro o chapéu para eles, por sua eficiência, mente aberta e pela ajuda que me dão com tanta boa vontade. Pousei ali para encontrar com Capt Yakov, que estava chegando num jato comercial. Ao desligar o motor, recebi o tratamento VIP normalmente reservado para os pilotos e passageiros dos jatos executivos que formam 90% do tráfego privado do lugar. A chegada do tapete vermelho foi um pouco demais. Especialmente quando o funcionário teve que me perguntar de que lado da asa por o tapete: “Frente ou Atrás?”
Continua amanhã…
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