1 de julho de 2001
Ah, que vida boa! Um bistrozinho francês perto da praça Santo Domingo, com cardápio fixo e excelente vinho cortesia da casa, tudo por 10 dólares. Depois de gravar áudio para a TV Globo, só fui dormir à 01h30 e me levantei de novo às 05h00. Estou surpreso com o pique que tenho. Pensei que, após todo o estresse das três semanas antes da partida, que tivesse perdido a boa forma ganha em seis meses de preparação física com Carlos Sposito e com a nutrição adicional sob orientação de Christiane Rodrigues. Agora vejo, e sinto na pele, os efeitos benéficos de ter dado importância a esse detalhe.
Após cumprir a papelada de costume no aeroporto (não, não é uma questão de chegar e simplesmente virar a chave!) estava no ar às 06h30. Nuvens baixas me obrigaram a ficar a 1,000 pés durante meia-hora. O pobre controlador não conseguia entender porque fiz plano de vôo a FL085 (Nível de Vôo de 8,500 pés) e ficava a apenas 1.000 pés de altitude! Segui a costa da Colômbia rumo ao sul-oeste durante uma hora (o rumo ideal para San José teria sido ao Oeste, mas evito sobrevoar mar aberto sem necessidade) antes de aproar as ilhas San Blas. A costa atlântica do Panamá estava com nuvens baixas e chuva por todos os lados. Tento evitar chuva porque ainda há goteiras no canopy. Outra coisa que tenho que resolver quanto antes!
O rádio de Panamá, o primeiro da viagem em inglês, me deu muito trabalho. Era minha culpa, em parte, porque ia subir pela costa leste do país até Costa Rica, mas quando vi que o tempo na costa oeste estava limpo e até ensolarado, mudei de idéia. Passei por uma seqüência de seis freqüências (às vezes, voltando às mesmas) e cada vez, o controlador não tinha noção de quem era e de onde vinha. Devo admitir que me tornei meio sarcástico depois de repetir a mesma série de informações seis vezes em 15 minutos. Quando estava dando voltas a 6.500 pés perto da Cidade de Panamá, tirando fotos do Canal, o então-controlador (uma senhora, digo, sem qualquer conotação negativa) perguntou se eu tinha autorização de estar voando na área e o que fazia. Como tinha sido “controlado” por seis controladores antes dela, todos com telas de radar e com meu numero squawk, cai na gargalhada. “Estou circulando, Senhora, sou um planador, entende,” lhe falei.
Ela prosseguiu com uma pergunta que não deveria ter feita: “PAPA TANGO ZULU ALFA MIKE, qual é seu rumo?”
Não resisti. “ZULU ALFA MIKE, rumo 180, 190, 200, 210, 220, 230, 240, 250…”
Pelo menos o comandante da American Airlines, prestes a pousar em Panamá, deu uma gargalhada. Ainda bem que eu não estava chegando para o pouso!
A costa do Pacifico era de longe a melhor opção para meu vôo. Não haveria necessidade de procurar um caminho por entre as nuvens e as montanhas na Costa Rica para alcançar Libéria, na costa oeste. Panamá tem apenas 200 Km de extensão na parte mais larga, e pude ver as nuvens e os CB pendurados sobre a costa atlântica. Devido aos desvios que fiz e os testes de transmissão de imagens ao vivo para o TV Globo, acabei ficando 7½ horas no ar e pousei ainda com 4½ horas de combustível. É maravilhoso não ter que me preocupar sobre combustível, uma experiência nova para mim que sempre voei monomotores tradicionais.
Escolhi pousar em Libéria em vez da capital costarriquenha. San José fica num vale propensa a turbulência pesada e fechada por montanhas carregadas de nuvens e Libéria, numa planície, com um aeroporto fácil onde tudo fica à mão. Dito e feito. Consegui cumprir os tramites alfandegários, pagar as taxas de pouso, fazer o plano de vôo para uma decolagem ao nascer o sol no dia seguinte antes da Torre começar a operar, reabastecer, dobrar as asas, amarrar o avião e tirar a bagagem num período de apenas uma hora. Normalmente, levaria ao menos duas horas. Nota para pilotos: o combustível em Libéria é barato (US$0,60 por litro, se você está saindo do país) o menor preço pago até agora nessa viagem.
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