28 de junho: Canaima – Valencia (Venezuela) 710km
Choveu pesado a noite toda. Eu olhei para fora às 5 da manhã e a noite ainda estava estrelada. Mas quando cheguei na aeronave as 5h30 a neblina estava por todos os lados, com isto eu não poderia sair apressado. Sem problemas. Eu sempre necessito um tempo quieto com o Ximango, sem ninguém me perguntando, além do mais, eu não queria ninguém me assistindo enquanto serrava o cadeado do canopy. Sim, já perdi a chave! Felizmente, meu canivete Victorinox, sinônimo de caixa de ferramentas portátil, tem uma serrinha metálica e isso salvou a minha pele.
Lá pelas 7 da manha, a metade da pista estava livre de neblina e eu não precisava mais do que isso para decolar. Como a torre não opera tão cedo, sem impedimentos!
Foi um vôo deslumbrante e quando aproximava o Salto Angel, podia avistar uns 200 metros da queda d’água, meros 20%. Momentos mais tarde, sumiu de vez por entre as nuvens. Fiquei esperando, planando e às vezes com cruzeiro econômico, conhecendo outros tepuis da região e, após 90 minutos de vôo, voltei a pousar em Canaima para tomar o café da manha no hotel. O operador de rádio, Camarita, exigiu minha permissão de voar pelas cataratas por escrito (mesmo que fosse meu terceiro vôo em dois dias!). Como não tinha nada por escrito, mostrei o plano de vôo carimbando em Cuidad Guyana, e consegui resolver o impasse dando para ele um canivete especial da Victorinox, com logo das Asas do Vento, e ficamos bons amigos! Foi a segunda vez que um canivete suíço me salvou a pele num dia!
Finalmente, decolei às 09h40 para Ciudad Bolivar para abastecer antes de prosseguir até Valencia. Uma vez no ar, me dei conta de que tinha ainda muito combustível a bordo e poderia alcançar Valencia sem problemas, se o tempo ficar estável. Mesmo assim, aproei Ciudad Bolivar para solicitar informações meteorológicas. As nuvens formavam uma camada sólida abaixo de mim. Todo piloto VFR sabe como é uma sensação maravilhosa estar lá encima… até ter que achar um buraco para descer! Valencia estava com teto de 1.500 pés broken e 10 km de visibilidade, o que me parecia muito bom. Desde que estava com hora marcada para pousar as 14h15 hora local, para uma recepção oferecida pela Coral S.A representante local da Victorinox, tinha 4 horas para voar 350 milhas. Reduzi os rpm para 4000 e voei tranqüilo, empurrado pelos ventos abaixo das nuvens a 2.500 pés, vendo as planícies da Venezuela passar embaixo das minhas asas e, de vez em quando, brincando de vôo à vela com os urubus.
Cheguei perto de Valencia às 14h15 exatas mas não conseguia achar o aeroporto. A torre me liberou para o pouso, mas não adiantou nada porque não podia ver a pista. O GPS indicava que o aeroporto ficava a uma milha na minha frente. Passei pela chuva e, de repente, surgiu uma nuvem monstruosa, uma verdadeira parede, logo no meu caminho. Vertical. Bem impressionante! Pedi conselho ao controlador, sobre qual caminho pegar para dar a volta mas ele simplesmente repetia “hay un CB en la proximidad”. Ele me deu o vento como 18 nós com bastante turbulência. Nada ideal para o Ximango. Resolvi esperar no ar, mas estava preso entre o mau tempo e as montanhas. Tive que descer muito baixo para poder fugir e evitar ser sugado para dentro daquele CB poderoso. Passaram-se mais 20 minutos antes que eu pude dar a volta e encontrar enfim o aeroporto – com a pista de pouso bem encharcada, é claro!
A essas alturas, já estava bem feliz de descer de lá de cima, sobretudo para uma recepção calorosa e um encontro com velhos amigos: Otto Gerlach e a equipe Victorinox, Tony Velazquez, (compulsivo viajante de Hummer), e Rodrigo Estrada, piloto de Bonanza com quem eu e Margi voamos para Guarane e Hato Santo Domingo no ano passado. Muito obrigado mais uma vez, Venezuela!
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