25 de agosto – 02 de setembro, 1997
Rota: Havana (José Martí), Nueva Gerona, Cayo Largo, Trinidad, Santiago de Cuba
A travessia do mar entre a Flórida e Havana é de apenas 80 milhas. Porém, para o governo americano é ilegal que qualquer aeronave – mesmo de matrícula estrangeira – faça um vôo dos Estados Unidos até Cuba. Eis o motivo de nosso agradável desvio pelas Bahamas.
Segundo o conselho dado pela Aviação Civil cubana, é imprescindível que o Controle de Havana fique ciente da vinda de uma aeronave antes de ela alcançar o espaço aéreo cubano. Nos últimos 40 anos, muitos aviões violaram o espaço aéreo em missões de guerra biológica contra seus cultivos ou para despejar folhetos antigovernamentais. Desde que tocamos o solo do aeroporto José Martí, em Havana, até completar todas as formalidades e poder sair do terminal, levamos pouco mais de meia hora e fomos recebidos calorosamente pelas autoridades.
Cuba inspira uma grande admiração por seu povo corajoso, trabalhador, bem instruído e charmoso. Ao mesmo tempo, ficamos indignados com as privações. Uma criança morrer em decorrência de alguma doença, por exemplo, é considerado um desastre nacional. Mas esta mesma criança não tem o direito de beber um copo de leite após os 7 anos de idade. A comida é racionada.
Pelas ruas, percebe-se que Havana já foi uma cidade gloriosa. Prédios de porte imperial embelezam o centro da cidade, mas ficam ao lado de outros caindo aos pedaços. Ao longo do Malecón, a famosa avenida beira-mar, onde o pôr-do-sol inspira muitos casamentos, a pintura e os tijolos dos prédios estão caindo. O trânsito da cidade é bastante fluido porque o governo controla a compra e o uso de carros particulares. Mas Humbers, Austins, Fords e Oldsmobiles dos anos 50 são estimulados diariamente a funcionar pelo amor e dedicação dos mecânicos cubanos. Entre essas relíquias, jovens ágeis pedalam ciclos (bicicletas com garupas) importados da China, para ganhar a vida.
Pousados na pista de Trinidad, na costa sul de Cuba, estacionamos ao lado de dois Antonovs 2, bi-plano (motor radial de 9 cilindros com 1.200 cv), os burros de carga dos céus cubanos. Em seguida fomos convidados a subir a bordo para conhecer a cabine bastante rústica. Depois, quando mostramos para os joviais pilotos cubanos o painel do Romeo (nada mais do que padrão IFR), ficaram maravilhados com os instrumentos.
Trinidad, pequena cidade colonial na província de Sancti Spíritus, é um monumento nacional. Pelos paralelepípedos, carretas puxadas por cavalos fazem fila com os carros dos anos 50. Das mansões construídas no século XIX pelos barões do açúcar, muitas foram restauradas e viraram museus. Em Cuba, os hotéis e restaurantes são do Estado. No entanto, cada vez mais, pessoas físicas conseguem (pagando taxas) fornecer uma alternativa: comer e até dormir em casas particulares. Abriram restaurantes simples, chamados paladares, em suas casas de família. A comida é simples, mas muito mais gostosa do que nos restaurantes oficiais. A palavra paladar foi inspirada na novela brasileira Vale Tudo, em que Regina Duarte tinha um restaurante com este nome!
Santiago de Cuba, onde Fidel Castro morou durante anos, era sede da luta pela independência da Espanha e, mais tarde, da Revolução. Houve muitas batalhas nas montanhas da Sierra Maestra, que despencam no mar. Santiago era também sede da primeira fábrica de rum Bacardí, fundada em 1862. Cem anos mais tarde, foi nacionalizada, e a família Bacardí mudou a sede para as Bermudas. A marca de rum procurada em Cuba hoje é a Havana Club. Quando não é misturado com Tropicola para fazer Cuba Libre, serve para um delicioso daiquirí. Nome que, por sinal, foi inspirado logo ali, na praia de Daiquirí.
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