13 de julho – 24 de julho, 1997
Rota: Resolute Bay, Taloyoak, Gjoa Haven, Baker Lake, Churchill, Erickson, Kenora, Toronto (City Center), Montreal, Quebec.
Resolute Bay, na ilha Cornwallis, é a comunidade que fica mais ao norte do Canadá, além de ser o centro de operações das expedições ao Pólo Norte verdadeiro e ao magnético. A proximidade do pólo magnético (meras 200 milhas) faz com que a agulha da bússola realize uma dança frenética que deixa o coração de qualquer piloto não habituado ao fenômeno batendo a mil por hora. A correção magnética em Resolute Bay é de 55 graus! Tudo bem se for fazer vôo visual… Como deve ser sem visibilidade e sem bússola? Mesmo se o giro direcional funcionasse (o que não é o nosso caso), precisaria seguir uma proa de 125 para pousar na pista 17. Durante boa parte do ano, as águas do Estreito de Barrow, em frente a Resolute Bay, estão congeladas. Só começam a derreter no final de junho, mas já congelam novamente no início de agosto. No verão, a área é muito sujeita a nevoeiro.
Terry nos levou para ver as ruínas de uma comunidade inuit (esquimó), que, segundo se supõe, datam de 500 anos atrás. O chão das estruturas é de pedra lisa e pele de caribu, que estaria costurada por cima das “paredes” de osso de baleia. Encostada a um lado da barraca, ficaria a fogueira, e, no outro lado, havia uma plataforma de pedra, que serviria de cama para toda a família. Tentamos imaginar as dificuldades de sobrevivência em condições tão rudimentares durante o inverno polar.
Gjoa Haven, 500 quilômetros ao sul de Resolute Bay, é um vilarejo hospitaleiro de mil pessoas que moram em casas modernas. Fica na beira de uma pequena baía quase redonda onde o navegador norueguês Roald Amundsen buscou abrigo para seu barco, Gjoa, em 1903, durante o inverno ártico. Tentava fazer, num barco pesqueiro, de 72 pés, a primeira navegação da Passagem Noroeste. As pessoas da expedição ficaram dois anos, envolvidos com estudos científicos de magnetismo da Terra e Amundsen emocionou-se profundamente com os contatos que fez com os inuits nômades.
Saindo de Gjoa Haven, atravessamos o último pedação de águas árticas congeladas, a Bacia de Rasmussen, e chegamos de volta ao continente – uma vastidão interminável de tundra, completamente plana. Descendo a Península de Adelaide, por fim, encontramos uma manada de mais de mil caribus. Suas peles brancas se destacam contra o musgo e os líquenes da tundra. Em Baker Lake, reabastecemos e recebemos a notícia de que Churchill, nosso destino, a mil quilômetros, estava operando por instrumentos.
As margens da Baía de Hudson ficaram escondidas pela camada de nuvens muito baixa. Foi um pouso por instrumentos com teto a apenas 200 pés! O clima é rigoroso à beira desse enorme mar interior. Churchill, construída como uma cidade exportadora de grãos nos anos 20, hoje é mais ativa no ramo turístico. É conhecida como a capital mundial do urso branco. No verão, milhares de belugas migram até aqui para acasalar e ter seus filhotes na boca do rio Churchill. Pela primeira vez desde Yellowknife, uma distância voada de 3.650 km, vimos árvores, entre elas, espruces negras que têm 800 anos e medem somente uns 10m de altura.
Quando paramos para reabastecer em Kenora, fomos informados pelo Flight Service Station de que teríamos de dar a volta pela costa norte do Lago Superior, o que representaria uma hora a mais no tempo de vôo até Toronto. É ilegal, segundo explicou o funcionário, sobrevoar o lago sem balsa salva-vidas. Ah, é só isso? Então, no problem! Ele ficou incrédulo ao saber que estávamos equipados com uma balsa. Ainda bem. O Lago Superior é enorme! No meio do lago, não conseguíamos mais ver a terra em volta. Era água por todos os lados. Lago Superior, Lago Michigan, Lago Huron, Georgian Bay e, finalmente, Lago Ontário. O pouso em Toronto foi memorável. O City Centre Airport fica numa pequena ilha bem em frente ao coração da cidade. Os prédios de vidro brilhavam orgulhosos sob a luz dourada do pôr-do-sol, dominados pela Torre CN, com seus 1.815 pés (580 metros) de altura.
A cidade de Quebec foi umas das mais belas surpresas da viagem. Apesar do tema controverso da independência do estado de Quebec do resto do Canadá, tudo parece bem integrado. Passeamos à vontade pelas ruelas antigas, à sombra do magnífico Château de Frontenac. Em cada esquina, artistas pintam retratos ou caricaturas, outros cantam, fazem mímica, tocam saxofone, contam piadas para as crianças — vale tudo. Têm até músicos bolivianos tocando flauta andina! O maior dilema do dia do visitante é decidir em que lugar, entre tantos restaurantes e cafés aconchegantes, saborear as delícias da cozinha francesa.
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