12 de julho, 1997
A PONTA ZÊNITE (72° 01′ Norte, 094° 29′ Oeste) é o extremo Norte do continente americano
Mesmo em meados de julho, o mar continua congelado por todos os lados. Taloyoak (antiga Spence Bay), uma comunidade de 600 inuits na Península de Boothia, é o vilarejo mais próximo ao Estreito de Bellot onde fica a Ponta Zênite. Já sabíamos que não haviam estradas que atravessam os 200 quilômetros da península, mas nossa idéia era fazer o trajeto de barco. Porém, isso ficou fora de cogitação devido à solidez do mar! Torciamos, então, poder fazer a viagem de “four-wheeler”, pequeno veículo todo-terreno, mas os habitantes de Taloyoak avisaram que seria impossível. A península é cortada por barrancos profundos e rios atravessando a tundra pantanosa. “Não há condições de fazer essa viagem no verão”, disse o guia inuit Abel, achando nossa proposta a maior piada. “Voltem no inverno!” Então perguntou: “Por que não vão em seu próprio avião?”
Ele estava certo, por que não? Então foi o “Romeo” que nos levou até o Estreito de Bellot, permitindo que passássemos de um lado para o outro da água gelada, que percorréssemos a totalidade do estreito. Que lugar impressionante! Apesar de os dois corpos de água a cada lado do Estreito de Bellot (o Estreito de Franklin a oeste e o Prince Rupert Inlet a leste) estarem congeladas, o próprio estreito não estava congelado, apenas algum iceberg flutuando em suas águas cinzentas.
No meio do estreito, havia uma ponta saliente — a Ponta Zênite, o pedaço de terra mais ao norte das Américas, ultrapassando o paralelo 72. Dando rasantes a 10 metros de altura acima dela, sentimos uma certa intimidade com o lugar pedregosa. O tempo era totalmente calmo, sem vento. Porém, a correnteza provocava turbilhões na superfície da água. Em 1858, quando buscava os sobreviventes da expedição de Sir John Franklin a procura da Passagem Noroeste, o iate “Fox” ficou preso no gelo. Não me parecia um lugar aconchegante para passar o inverno ártico.
Referência ao Estreito de Bellot, em 1852:
“Com os cães e dois trenós, seguimos a rota que o Sr. Kennedy tomou ontem e encontramos, além do principal curso d’água, dois menores, onde, como observou o Sr. Kennedy, os icebergs movimentam-se com enorme rapidez e rodopiam. O ar nas proximidades da água é prenhe de uma umidade de gelar os ossos; a brisa que segue os contornos da costa açoita nossos rostos, fazendo-nos sentir um frio que há muito não sentimos; à noite, quase todos nós temos o rosto marcado por frostbite. Meu pobre nariz é o que mais sofre, o bastante para me preocupar, pois já tenho uma cicatriz que parte uma de minhas narinas em duas”.
Diário de Joseph René Bellot, 7 de abril de 1852
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