25 de junho, 1997
CABO PRÍNCIPE DE GALES (65° 37′ Norte, 168° 05′ Oeste) é o extremo Oeste do continente americano
A pista de Wales, de terra batida, fica a 1 quilômetro do Cabo Príncipe de Gales. Fomos a pé até o pequeno vilarejo de 170 esquimós kingikmuit, 2 graus de latitude abaixo do Círculo Ártico. Não está ligado ao sistema rodoviário do Alaska, a algumas centenas de quilômetros de distância. Tanto no verão como no inverno, os ventos gelados vindos da Sibéria ou do Ártico fazem com que o lugar não seja muito aconchegante. No inverno, a temperatura cai a até 40° C negativos. Com vento, a sensação térmica é de 60° abaixo de zero. Durante o “verão”, pode chegar a até 10° acima de zero, mas, com o eterno vento vindo da Sibéria, que penetra mesmo nos casacos mais grossos, a sensação térmica é de 0º.
Uma senhora esquimó, Lena Sereadlook, nos convidou para tomar café em sua casa de madeira. Ela e o marido, Pete, acharam nosso desejo de ir até o extremo oeste meio maluco, mas mesmo assim ela se ofereceu para nos levar lá de four-wheeler (tipo de motocicleta com quatro rodas) pela praia arenosa. No cabo, ficamos sós, absorvendo a magia do Estreito de Bering e contemplando as montanhas nevadas da Península de Chukotsk, claramente visíveis na Sibéria, a 80 quilômetros de distância.
Entre as pedras da praia, encontramos ossadas de baleia e de morsas, mamíferos marinhos que migram pelo estreito. A caça é permitida para consumo próprio dos esquimós. Num varal do vilarejo, vimos o corpo de uma foca, destripada, pendurada para secar. Mais tarde, seria enterrada e deixada para fermentar até o outono, quando seria desenterrada e comida. Esse prato tradicional, é chamado stink-meat (carne que cheira mal) pelos brancos. É muito rico em proteínas e ajuda os esquimós a sobreviverem ao rigoroso inverno. Porém, em geral, as tradições estão desaparecendo. Os trenós de cachorro, por exemplo, foram substituídos por snowmobiles (tipo de jet ski que anda na neve).
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