28 de abril – 16 de maio, 1997
ROTA: México – Mérida, Chichén Itzá, Cozumel, Tulum, Palenque, Tuxla, Oaxaca, Puebla, Toluca, Monclova, Chihuahua, La Paz, La Palma, Loreto, Punta Chivato, San Francisquito
Voar pelo México num aviãozinho é enfrentar uma certa burocracia. Por exemplo, é imprescindível ter um seguro mexicano contra danos a terceiros, mesmo possuindo uma apólice de seguro internacional. Só depois será emitido um papelito de “Internación”, que será exigido a cada pouso no país. Obrigatório obter também um seguro mexicano. Além disso, a cada pouso, ocorre a visita da Polícia Federal e dos agentes de combate ao narcotráfico. Mas não importa, os mexicanos são sorridentes e cheios de boa vontade. Cada vez que reparam a bandeira brasileira na fuselagem do Romeo, ficam encantados.
As cidades maias ficaram espalhadas pela península de Yucatán. Uxmal, construída entre os séculos VII e X, surpreende pela austeridade clássica. Na fachada do palácio do Governador, a mistura das assustadoras máscaras de pedra do narigudo Chac, Deus da Chuva, com desenhos geométricos, tipo arte moderna, é fascinante. Chichén Itzá é um poema à sabedoria, à engenharia e ao talento artístico dos maias. As construções – pirâmides, observatório, quadra de bola – estão alinhadas com precisão segundo os trajetos do sol e da lua. Seus desenhos, cheios de simbolismo, são um eterno mistério.
Decolamos bem cedo de Cozumel para sobrevoar as ruínas de Tulum, na costa leste da península de Yucatán. Como o dia estava lindo, mantivemos apenas 2.000 pés (600 metros) para apreciar a vista das praias pelo caminho. Então, de repente, o Romeo engasgou – e o motor parou. Devido à nossa baixa altura e à rapidez com que caíamos – à razão de 1.000 pés por minuto – procuramos logo um lugar para pousar. Gérard fez de tudo — trocou de tanque na seletora, acionou a bomba de gasolina elétrica, testou os magnetos e nada. Então, se preparou para um pouso de emergência na bela rodovia que cortava a floresta logo abaixo. Fizemos a aproximação para pousar em frente a dois carros num trecho onde, por sorte, não havia trânsito no sentido contrário. De repente, Romeo engasgou de novo e o motor começou a ronronar novamente.
Era importante pousar logo para verificar tudo. O aeroporto mais perto era o de Tulum, que é militar. Não tínhamos opção. Pousamos sem pré-aviso e os militares levaram um susto. Começaram a correr por todos os lados. Ao descobrir que não éramos traficantes perdidos, foram muito gentis. Gérard descobriu que era a bomba de gasolina mecânica que tinha falhado. Felizmente, ele tinha uma de reposição a bordo.
O aeroporto da aviação geral para Cidade do México fica em Toluca, a 8.500 pés de altitude, no altiplano a uns 50 quilômetros a oeste da cidade. Sabíamos da má fama da Cidade do México, em termos de poluição do ar, mas que bela surpresa tivemos! É verdade que o ar se torna ruim às vezes, mas São Paulo não fica atrás. De resto, é linda. Em vez de derrubados, os casarões antigos estão sofrendo reformas. E o museu de Antropologia está entre os mais fascinantes do mundo. Imperdível.
Em Cuatro Ciénagas, fomos conhecer uma reserva natural em pleno deserto de Chihuahua. É um lugar onde brotam fontes de água no chão do deserto, formando poças de água transparente, de cor turquesa. Os peixes, caracóis e tartarugas aprenderam a sobreviver na águas alcalinas. Em algumas poças, é permitido nadar – uma experiência aquática memorável. A cor azul-viva da água, a luminosidade, as folhas de nenúfar por cima, a tranqüilidade das “mojarras” (os peixinhos do local)… tudo conspira para parecer coisa de sonho.
Decolando da cidade de Chihuahua (que significa “lugar seco e arenoso”), com destino a La Paz na Baixa Califórnia, aproamos a oeste escolhendo a rota pelo Barranco do Cobre, um dos cinco impressionantes cânions em Sierra Madre. Ziguezagueamos entre picos que variam entre 8 e 12.000 pés de altura e, em certos lugares, têm uma profundidade de mais de uma milha. Às 9 horas da manhã, o sol não havia penetrado ainda até o fundo do vale. Pelo Barranco de Urique, uma ferrovia passa por uma série de túneis e pontes. A complicada construção levou quase 100 anos, mas até hoje é possível fazer aqui uma das viagens de trem mais emocionantes do mundo.
Atravessamos o Golfo da Califórnia e a mudança de paisagem foi radical. Surgiram montanhas rudes, estéreis, a nudez expondo cada ruga. E pequenas baías com praias de areia branca e águas verdes…. Os ventos vindos do Pacífico limpam o ar, então a visibilidade ficou nítida — que contraste com os céus esfumaçados do sul. O dilema era onde pousar: há pistas espalhadas por toda a Baixa Califórnia: de asfalto, de terra, de areia dura ou de pedra pura. É só escolher uma praia, um rancho, uma aldeia de pescadores ou uma antiga missão jesuíta.
A vegetação nos chamou atenção: arbustos com folhas secas e mil variedades de cactos brotam nas pedras e no solo árido. Os famosos cardones são cactos gigantes que chegam a 20 metros de altura e, com toda a água que estocam nos troncos, chegam a pesar até 10 toneladas! As costelas do tronco funcionam como um acordeão, inflando e desinflando segundo a disponibilidade de água.
Pousamos na pequena pista, num lago seco de San Francisquito, e acampamos na praia. De dia, as águas da baía são a festa dos pelicanos, atobás, gaivotas e andorinhas do mar, que perseguem os cardumes de sardinhas que, por sua vez, tentam fugir das bocadas dos atuns e acabam sendo engolidas pelos pássaros. No pequeno restaurante, matamos a sede com uma Corona gelada ou uma tequila on the rocks, e comemos peixe. À noite, dormimos na areia, debaixo do céu estrelado, ao som dos coiotes selvagens que enchiam o ar com seus uivos.
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