12 de abril – 27 de abril, 1997
ROTA: Guatemala: Cidade de Guatemala, Rio Dulce, Flores. Belize: Belize City, Caye Caulker
A Guatemala é o que se espera de todos os países da América Central. Oitenta por cento da população ainda é indígena. Muitos andam com trajes tradicionais, que funcionam como um colorido colírio depois de tanta fumaça das queimadas. Como na América do Sul, a cultura foi prejudicada pela invasão européia. Porém, será que sobreviverá à nova invasão do norte, a de camisetas e garrafas plásticas?
No domingo, dia em que teria sido impossível voar devido à densa bruma seca que cobria o país e escondia os vulcões, Eugenio e Carmen nos levaram a Chichicastenango, nas terras altas. O famoso mercado é ponto de encontro dos índios de Sierra Madre onde são expostos os coloridos têxteis feitos à mão e artesanatos geniais. Desarmada pelos sorrisos de Juanita e Maria, duas menininhas espertas de 3 e 4 anos, acabei comprando coisas que não queria, enquanto Gérard me olhava assustado!
Na cidade de Antigua, velha capital da Guatemala abandonada em 1773 devido aos terremotos, assistimos a um casamento e a um funeral. Em Chichicastenango, era dia de batismo na igreja Santo Tomás, construída em 1540. As mulheres em trajes tradicionais carregavam ramos de lírios perfumados e velas. Algumas balançavam latas com pinho ardente, enchendo o ar com fumaça branca para espantar os maus espíritos. Por toda a nave da igreja, os fiéis acendiam velas no chão, jogavam pétalas de rosa e gotas de licor, enquanto faziam seus pedidos ao Senhor.
Fomos de carro até a província de Verapaz para tentar ver o resplandecente Quetzal (pássaro nacional da Guatemala). Em vão. Mesmo os habitantes da região passam anos sem ver um sequer. É trágico que o verdadeiro pássaro dos maias, símbolo de luz, vida e sabedoria, possa estar chegando ao fim de seus dias. Seu frágil habitat, as florestas altas banhadas pelas nuvens e neblina, está sendo queimado para dar lugar ao pasto.
A compensação foi a visita a Tikal, onde as pirâmides e os templos erguem-se até 65 metros acima do solo. São vestígios da potência e da cultura maia que dominavam a região até 900 d.C. As teorias para explicar o fim repentino dos maias são variadas: fome provocada pela pressão da população sobre os recursos naturais, doença, rebelião popular. Aos poucos, a floresta cobriu as construções com ramos protetores, preservando-as para desafiar a inteligência do homem no século XX. Sentado na grama da Gran Plaza, coração da cidade onde, mil anos antes, viviam 60.000 pessoas, nos sentimos bem insignificantes.
Belize faz parte da América Central, mas sua herança colonial britânica, leva os habitantes a se identificarem mais com os países do Caribe. Imperam o ritmo do reggae e o estilo de cabelo rasta. O mar é azul translúcido, os recifes expõem corais exóticos onde desfilam peixes coloridos. A arquitetura das casas também lembra as ilhas do Caribe — todas de madeira e coloridas. O ambiente é cool, o povo, amigável… Porém, as autoridades aeronáuticas ficaram desconfiadas. Acham nossa presença altamente suspeita. “Por motivos de segurança” não fomos autorizados a voar até Lighthouse Reef, a 75 quilômetros da costa, onde queríamos tirar fotos do Blue Hole (Buraco Azul) do ar. A desculpa oficial é que é perigoso sobrevoar o mar num monomotor. Entretanto, acreditamos que o verdadeiro motivo seja o fato de que entregas de “carga branca” são freqüentemente feitas na pequena pista de Lighthouse Reef. Fomos, mesmo assim. O Blue Hole não é uma cratera mas um sinkhole, uma enorme caverna que teve um colapso há séculos. Tem 330 metros de diâmetro e o buraco desce até uma profundidade azul de 130 metros. As estalactites, que ainda estão penduradas no teto, comprovam que um dia ele já foi uma caverna fechada cheia de ar.
Pernoitamos na ilha de Caye Caulker, onde fomos visitar uma família de peixes-boi ao lado do mangue de Swallow Caye (Ilha das Andorinhas). Como no Brasil, aqui também estão ameaçados de extinção. Mergulhamos na água cristalina de Shark Alley (Beco dos Tubarões), uma passagem no recife de corais de 280 quilômetros (dizem que é a segunda maior do hemisfério norte). Aqui vive um grupo de simpáticos tubarões marrons e raias graciosas que, curiosas, “voaram” à nossa volta. À noite, cansados, dormimos num bangalô ao lado do cemitério. A proprietária garantiu que não seríamos incomodados pelos vizinhos, sempre quietinhos!
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