Manágua-San Salvador

O belíssimo vulcão Concepción, Nicarágua. Foto Margi Moss

O belíssimo vulcão Concepción, Nicarágua. Foto Margi Moss

 

26 de março – 12 de abril, 1997

ROTA: Nicarágua: Manágua, Bluefields, Corn Island, Manágua. Honduras: Tegucigalpa, Trujillo, Roatán, San Pedro Sula. El Salvador:- San Salvador

O que mais chama atenção, quando se entra no país pelo sul, é a grandeza do Lago Nicarágua (150 km de extensão), do qual surge, de repente, o cone perfeito do vulcão de Concepción. Avisar nossa posição ao Controle de Manágua não foi fácil. Apesar de informá-lo várias vezes que estávamos em vôo visual, acima do lago, o controlador insistia que estávamos na aerovia, 20 milhas ao oeste. No final, desistimos e deixamos que ele decidisse por si mesmo nossa posição, enquanto sobrevoávamos o impressionante vulcão para tirar fotos.

Não sabíamos o que nos esperava na Nicarágua, onde reinava a paz desde 1990. Encontramos certa animosidade contra o Tio Sam, evidente pelos murais pintados nas ruas de León, porém a toda hora passavam pelas ruas os ônibus escolares aposentados dos EUA! Uma frota formidável destes veículos amarelos carregados de gente, bagagens e móveis, ainda com “SCHOOL BUS” escrito bem grande na frente e atrás, percorre as estradas esburacadas entre as pequenas comunidades perdidas do país.

Seguimos milhares de pessoas que aproveitavam o feriado de Páscoa para ir à praia, onde outra surpresa nos esperava. Os nicaragüenses vão à praia, tomam sol e até nadam no mar vestidos com toda sua roupa! Em países asiáticos ou africanos, as mulheres se banham no mar vestidas por motivos impostos pela religião ou cultura. Mas aqui, mesmo os homens nadam de camisa social e calça comprida. Pelo menos tiram os sapatos…

A pobreza do país é assustadora. No campo, espalhadas pelos hectares de pasto de gado, os casebres malfadados dos campesinos, construídos com qualquer coisa encontrada por ali, seriam uma vergonha ao lado das arrumadas choupanas de barro das aldeias africanas.

No dia em que pousamos em Tegucigalpa, a capital, um Hércules das forças armadas dos EUA passou do fim da pista e explodiu numa encruzilhada normalmente congestionada, mas onde, por milagre, não passava nem veículo nem pedestre, apesar da hora (9h30.). Três soldados americanos morreram e a “valiosa” carga de máquinas de lavar americanas e móveis foi destruída. Os sete sobreviventes, com queimaduras graves, incluíram o piloto, que admitiu ter errado ao tocar no solo lá pela metade da pista (de 1.900 metros, com um morro na aproximação) e não conseguiu frear a tempo.

Na costa de Honduras, ficam as Bay Islands, incluindo a ilha de Roatán, famosa entre os mergulhadores. Na ponta oeste, onde há uma reserva marinha, os jardins de coral e seus peixes coloridos são encantadores.

O ponto alto do turismo de Honduras são as ruínas da cidade de Copán. O lugar é um dos mais belos da cultura maia em toda a Meso-américa. Desde os templos-pirâmides de escadarias múltiplas subindo ao céu, e as estrelas esculpidas, que datam dos séculos XII e XIII, até as casas elegantes, onde viviam as elites, a sofisticação deste mundo perdido dos maias é deslumbrante. Em seu mito da criação, viam a Terra como o corpo de um enorme crocodilo que flutuava na água. Os maias eram sábios em astronomia e inventaram um calendário próprio, gravando datas de feitos históricos nas pedras. A riqueza dos hieroglíficos bem preservados de Copán é uma chave que ajuda na interpretação das escrituras maias.

De San Pedro Sula, em Honduras, até San Salvador, era um vôo de apenas uma hora. A 10.500 pés de altura, entre cumes de montanhas coroadas de nuvenzinhas, vimos quase nada da paisagem de morros desmatados abaixo. Desde o Panamá, a visibilidade piora a cada vôo. Os campos e as florestas estão em chamas, produzindo uma densa bruma seca que reduz a visibilidade horizontal a apenas 3 ou 4 quilômetros, apesar da ausência de nuvens no céu. Os vulcões que deveriam estar no horizonte ficam invisíveis. Só sabemos que estão lá de verdade porque constam dos mapas!

El Salvador é o menor país da América Central – só um pouco maior, segundo comentário de um piloto local, que o Lago Nicarágua! Apesar de sofrer 20 anos de conflitos, continua sendo o país mais populoso da região (250 habitantes por quilômetro quadrado). Hoje, o país se recupera pouco a pouco de uma guerra civil que custou 75.000 vidas e não mudou nada. Com o fim do apoio russo, os guerrilheiros foram obrigados a desistir e o “status quo” continua.

Os salvadorenhos são brincalhões, generosos e muito prestativos. E não houve nenhuma encrenca ou burocracia quando pousamos no aeroporto de Ilopango. Para grande surpresa nossa, levamos apenas cinco minutos para fazer os trâmites de imigração e alfândega.

Em San Salvador, mesmo em terra a visibilidade é critica: cada ônibus ou caminhão emite uma fumaça negra de fazer engasgar. Pela manhã cedo, quando o ar está limpo, após uma noite de descanso, é possível ver o vulcão de San Salvador acima da cidade. Ao avançar do dia, ele vai sumindo na poluição causada pelo trânsito. Nada que uma simples chave de fenda não resolveria, porém… Como nos países vizinhos, o transporte público mais comum é o aposentado ônibus escolar americano. Só que, em El Salvador, estão pintados em cores vivas e decorados com faixas brilhantes… Talvez numa tentativa de distrair o povo da fumaça enegrecida que expelem!