10 de setembro de 1990
Na entrada de Misfat al Ibriyeen, pendurado no alto de uma encosta, fomos cumprimentados por senhores idosos, vestidos com dishdashas brancos, que conversavam à sombra. Com gestos, nos convidaram a entrar em seu vilarejo através do arco antigo. Uma envolvente sensação de eternidade flutuava pelos becos limpos, com suas casas de tijolo vermelho. Gatos sumiam pelas portas de metal decoradas com coloridas flores trabalhadas. Moringas de barro, emolduradas por pequenas janelas escuras, capturavam a luz do sol. Três meninas vestidas com mantos coloridos debruados com tranças douradas, equilibrando bacias d’água sobre a cabeça, riram timidamente ao voltarem do poço.
No sabla, ou local de reunião, vários anciões, com longas barbas grisalhas, alguns banguelas, outros com os olhos cobertos pela catarata, conversavam baixinho. Nós os salaamamos o melhor que pudemos e eles gesticularam para que fôssemos ver o falajnum vale estreito onde ressoava o canto dos pássaros. À sombra de frondosas tamareiras, o borbulhar das águas era interrompido periodicamente pelo mergulho de um sapo feliz. Limões amarelos secavam sobre as pedras, enchendo o ar com seu perfume agridoce.
Do livro “A Volta por Cima” Cap. 13. Editora Record
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