16 de fevereiro de 1990
Em Ndungu, nosso acampamento no meio do mato, não havia outro ser humano ao alcance da vista ou do ouvido. Armamos nossa barraca num barranco, de frente para um lago em forma de meia-lua, à beira do sinuoso Zambezi. Nossa companheira mais próxima era uma família de hipopótamos que chafurdava e gritava numa poça a poucos metros de distância.
Durante o dia, andávamos por ali e contemplávamos os morros irregulares que se erguiam abruptamente do lado oposto do rio, em Zâmbia. Algumas casinhas de sapé eram a única indicação de presença humana. Era maravilhoso poder sentar em silêncio num cantinho intocado da África na companhia de animais selvagens.
À noite, dormíamos no chão duro, enquanto os ruídos noturnos ficavam cada vez mais altos. Um rugido de leão ecoou e parecia não muito distante de nossa frágil barraca. Nosso coração bateu acelerado. Impalas macho tossiam, avisando o líder do harém que havia séria competição na área. Os hipopótamos saíam da poça para pastar. Depois, os elefantes vieram beber no rio, suas silhuetas refletindo-se nas águas iluminadas pela lua. Iam chapinhando as águas, felizes, de banco de areia em banco de areia.
Do livro A Volta por Cima – Ed. Record
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