3 de agosto de 1989
O deserto exibia toda a gama de marrons: um enorme vazio de areias douradas, areia suja, bege, ocre, marrom-avermelhado e marrom-escuro. As chuvas preencheram os vazios formando lagos café-com-leite. Levamos duas garrafas de água para emergência, quantidade que, logo nos demos conta, era ridícula para um vôo sobre o deserto. A verdade era que, depois de sobrevoar o Atlântico, sentíamo-nos complacentes ao sobrevoar terra firme, qualquer terra. Preocupada, passei a gravar os pontos em que ficavam as poças, caso o motor parasse.
Como não haviam pontos de referência no terreno árido, não era nada fácil saber onde estávamos. Após passarmos o tempo previsto de vôo, vasculhamos o horizonte ansiosamente e encontramos outra vez com o rio Níger. Timbuktu seria fácil de encontrar, não é mesmo? No século XV, tivera 100.000 habitantes, transformando-se de humilde campement de inverno para tuaregues nômades, ao lado de uma fonte (Tin Buctu – Fonte de Buctu), em cidade poderosa e reverenciada fonte do saber islâmico.
Onde ficava então essa cidade legendária? No meio do nada descobrimos uma pista de pouso estendida tal qual uma manta de bombeiro, na areia, logo abaixo de onde estávamos. Mais além havia uma mancha marrom, como um lago seco. A casca de Timbuktu!
Do livro A Volta por Cima – Ed. Record
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